A cada dois anos, a Organização das
Nações Unidas (ONU), através do seu Programa para o Desenvolvimento (PNUD),
realiza um fórum que discute a governabilidade nos países da América Latina. Nas
rodadas de 2009 e 2011 o tema do evento foi a reinvenção do governo e por que
as populações latino-americanas confiam cada vez menos nos seus políticos e
governantes.
Esses eventos são importantes por
que nos dão informações sobre o nosso mundo, sobre a realidade que temos e não
aquela que gostaríamos de ter. Falar em reinvenção de governos é na verdade
tratar das ações governamentais que beneficiam a sociedade, na transparência
das ações, no acesso as informações e aos serviços estatais. Enfim, é falar dos
temas que devem realmente importar ao cidadão num momento em que nos preparamos
para, mais uma vez, irmos às urnas.
Em 2011, o fórum da
governabilidade se reuniu em Brasília com representantes de 19 países da América
Latina. Na ocasião o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU
publicou um relatório com dados perturbadores. A desconfiança dos cidadãos em
relação aos políticos, partidos, governantes e demais instituições políticas é
algo que existe em quase todos os países do mundo. Inclusive, importa pouco se
os países são desenvolvidos ou não, democráticos ou não.
Tanto nos países mais pobres
quanto nos países mais ricos do mundo os políticos inspiram cada vez menos
confiança. Enfim, nós, brasileiros, não somos os únicos no mundo a por na conta
dos políticos a culpa pelas nossas mazelas. O relatório mostrou que apenas 40%
da população, tanto na África como na Ásia, confia no legislativo. E que na América
Latina e no Leste Europeu este percentual cai para meros 15%.
Sobre os partidos políticos, os
níveis de confiança são bastante baixos. Na América Latina apenas 10% da
população confia nos seus partidos. E vejam que essa discussão não é recente. No
início da década de 90, o cientista político Robert Putnam, perguntava por que
as pessoas, nos EUA e em outras tantas democracias, gostam cada vez menos dos
seus governos.
Para Putnam as pessoas desacreditam cada vez
mais nos governos quanto menor for sua efetividade.
Ou seja, quanto menos eles se fizerem presentes na vida da sociedade, através
de políticas públicas, por exemplo, mais as pessoas vão desacreditar deles.
O relatório da ONU demonstra que
a confiança nos governos e políticos cai na medida em que falta transparência
nos atos governamentais. Mostra, também, que quanto mais mecanismos de
participação tiver a população, mais confiança em seus governos ela depositará.
Claro, questões como deficiências nos processos eleitorais e dificuldades no
acesso aos serviços públicos fazem a credibilidade dos governos cair.
Mas, interessa perceber que a
questão não se reduz aos índices de corrupção. Ela vai além disso. O cidadão
confia, e legitima, seu governante se consegue participar de suas ações. Na América
Latina apenas um em cada três cidadãos está satisfeito com o trabalho realizado
pelos governantes. Os outros dois estam insatisfeitos com seus governantes
porque o consideram um bando de corruptos? Sim. Mas, não é só isso.
Eles estam insatisfeitos porque
não percebem, na prática, a presença dos serviços governamentais. E porque se
sentem impedidos de participar dos processos políticos, na medida em que suas
atuações se restringem ao momento em que votam.
Outro dado preocupante, no
relatório, é que 44% da população latino americana considera o crescimento econômico
mais importante do que a democracia. Quase metade da população está disposta a
trocar um sistema político democrático (com garantias em termos de liberdades
políticas) por um que garanta bons níveis de desenvolvimento econômico, mesmo
que seja através de um governo autoritário.
Eu ainda vou tratar dessa
questão. Por hora importa ter claro que o cidadão não quer apenas que você,
candidato, seja honesto, pois isso é uma obrigação de todos. O que o cidadão
quer são governantes e representantes que respeitem os mecanismo de
participação e que sejam efetivos em termos de desenvolvimento de políticas
públicas. Do contrário, ele fica sempre a se perguntar se deve ou não confiar
nos políticos.