sexta-feira, 3 de agosto de 2012

POR QUE CONFIAMOS TÃO POUCO NOS POLÍTICOS?




A cada dois anos, a Organização das Nações Unidas (ONU), através do seu Programa para o Desenvolvimento (PNUD), realiza um fórum que discute a governabilidade nos países da América Latina. Nas rodadas de 2009 e 2011 o tema do evento foi a reinvenção do governo e por que as populações latino-americanas confiam cada vez menos nos seus políticos e governantes.

Esses eventos são importantes por que nos dão informações sobre o nosso mundo, sobre a realidade que temos e não aquela que gostaríamos de ter. Falar em reinvenção de governos é na verdade tratar das ações governamentais que beneficiam a sociedade, na transparência das ações, no acesso as informações e aos serviços estatais. Enfim, é falar dos temas que devem realmente importar ao cidadão num momento em que nos preparamos para, mais uma vez, irmos às urnas.

Em 2011, o fórum da governabilidade se reuniu em Brasília com representantes de 19 países da América Latina. Na ocasião o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais da ONU publicou um relatório com dados perturbadores. A desconfiança dos cidadãos em relação aos políticos, partidos, governantes e demais instituições políticas é algo que existe em quase todos os países do mundo. Inclusive, importa pouco se os países são desenvolvidos ou não, democráticos ou não.

Tanto nos países mais pobres quanto nos países mais ricos do mundo os políticos inspiram cada vez menos confiança. Enfim, nós, brasileiros, não somos os únicos no mundo a por na conta dos políticos a culpa pelas nossas mazelas. O relatório mostrou que apenas 40% da população, tanto na África como na Ásia, confia no legislativo. E que na América Latina e no Leste Europeu este percentual cai para meros 15%.

Sobre os partidos políticos, os níveis de confiança são bastante baixos. Na América Latina apenas 10% da população confia nos seus partidos. E vejam que essa discussão não é recente. No início da década de 90, o cientista político Robert Putnam, perguntava por que as pessoas, nos EUA e em outras tantas democracias, gostam cada vez menos dos seus governos.

Para Putnam as pessoas desacreditam cada vez mais nos governos quanto menor for sua efetividade. Ou seja, quanto menos eles se fizerem presentes na vida da sociedade, através de políticas públicas, por exemplo, mais as pessoas vão desacreditar deles.

O relatório da ONU demonstra que a confiança nos governos e políticos cai na medida em que falta transparência nos atos governamentais. Mostra, também, que quanto mais mecanismos de participação tiver a população, mais confiança em seus governos ela depositará. Claro, questões como deficiências nos processos eleitorais e dificuldades no acesso aos serviços públicos fazem a credibilidade dos governos cair.

Mas, interessa perceber que a questão não se reduz aos índices de corrupção. Ela vai além disso. O cidadão confia, e legitima, seu governante se consegue participar de suas ações. Na América Latina apenas um em cada três cidadãos está satisfeito com o trabalho realizado pelos governantes. Os outros dois estam insatisfeitos com seus governantes porque o consideram um bando de corruptos? Sim. Mas, não é só isso.

Eles estam insatisfeitos porque não percebem, na prática, a presença dos serviços governamentais. E porque se sentem impedidos de participar dos processos políticos, na medida em que suas atuações se restringem ao momento em que votam.

Outro dado preocupante, no relatório, é que 44% da população latino americana considera o crescimento econômico mais importante do que a democracia. Quase metade da população está disposta a trocar um sistema político democrático (com garantias em termos de liberdades políticas) por um que garanta bons níveis de desenvolvimento econômico, mesmo que seja através de um governo autoritário.

Eu ainda vou tratar dessa questão. Por hora importa ter claro que o cidadão não quer apenas que você, candidato, seja honesto, pois isso é uma obrigação de todos. O que o cidadão quer são governantes e representantes que respeitem os mecanismo de participação e que sejam efetivos em termos de desenvolvimento de políticas públicas. Do contrário, ele fica sempre a se perguntar se deve ou não confiar nos políticos.