Enquanto nossos políticos brigam para ver quem é o
autor dessa ou daquela obra, enquanto a campanha eleitoral rola solta pelas
ruas, enquanto os mensaleiros são julgados em Brasília, o mundo real não para.
Ontem o Ministério da Educação divulgou os dados do
IDEB, que é o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica. Com ele vemos que a
nota do ensino médio em nove estados da federação diminuiu de 2009 para 2011. E
a Paraíba está nessa nada honrosa lista. Os outros oito estados são: Acre, Alagoas, Bahia, Espírito Santo,
Maranhão, Pará, Paraná e Rio Grande do Sul. Sete estados mantiveram o resultado
da avaliação de 2009. Ou seja, apenas onze estados conseguiram melhorar suas avaliações.
O IDEB afere as três etapas do ensino brasileiro.
São as séries iniciais, até a 4ª série, as séries finais, da 5ª a 8ª, e o
Ensino Médio. Das três, é o ensino médio que apresenta o pior desempenho. Nacionalmente, a evolução
do IDEB para o ensino médio é fraca. Em 2005, o índice foi de 3.4. Em 2007, 3.5.
Em 2009, 3.6. E já agora em 2011 foi de 3.7. Detalhe a meta estipulada pelo MEC
era essa mesma de 3.7.
Notem que a cada dois anos aumentamos apenas um
mísero décimo. Neste ritmo só vamos sair do vermelho por volta de 2077 se
considerarmos a nota 8,0 como uma média aceitável a ser atingida.
A Paraíba reproduz a situação nacional, com o agravante de ter sido rebaixada. Em 2005, o IDEB do ensino médio paraibano foi 3.0. Em 2007, foi de 3.2. Em 2009, 3.4 e 2011 caiu para 3.3. Desse jeito a Paraíba só vai sair da nota vermelha bem depois de 2080. Parece que estamos condenados a mais um século de baixos índices de desempenho na educação, ou seja, condenados ao subdesenvolvimento.
A meta estipulada para a Paraíba alcançar no IDEB
do ensino médio de 2011 era de 3.7. Com essa nota de 3.3, demonstra-se que as
políticas públicas voltadas para a educação na Paraíba são mal conduzidas. Pelo diagnóstico a educação paraibana, como de
resto a nacional, não está nada bem. Então, vamos tentar entender melhor a
questão. Vejamos a opinião de pessoas que se dedicam a educação pública.
Um dos colaboradores da Campanha Nacional pelo
Direito à Educação, Luiz Araújo, disse que “o Ensino Médio tem carências
acumuladas, principalmente em relação à população pobre”. Ele disse, também,
que “falta um padrão mínimo que atinja essa etapa escolar, além de problemas de
infraestrutura, deficiências na formação dos professores e poucos investimentos
governamentais para o ensino médio”.
O Ministro da Educação, Aloizio Mercadante, apontou
a falta de professores com formação específica e alta concentração de
matrículas no turno da noite – 30% dos jovens, no ensino médio, estudam à
noite.
Vera Masagão, coordenadora da ONG Ação Educativa, pôs
o dedo na ferida. Ela apontou como causa principal o fato de que o ensino médio
é subfinanciado. Vera disse a mãe de todas as obviedades. Sabemos que é preciso
investir em educação. E que é preciso trazer o jovem para o ambiente escolar. Vera
Masagão diz que a quantidade de jovens matriculados no ensino médio está aquém
do esperado.
Luiz Araújo traz outra obviedade incômoda. Ele diz
que os jovens chegam atrasados ao ensino médio porque precisam trabalhar e só estudam
a noite. Isso interfere no rendimento, na qualidade do ensino e no desempenho pelo
IDEB.
Sabemos que quem trabalha oito horas por dia dificilmente
terá bom desempenho escolar. O aluno precisa estar muito motivado, a escola tem
que ser muito boa e atrativa, para que se fique nela por mais quatro.
Aí temos o efeito bola de neve. O
ensino médio tem problemas de matrículas, porque as pessoas ficam retidas no ensino
fundamental. Elas demoram a vir para o ensino médio e, quando chegam, ou demoram
a terminar ou não conseguem finalizar mais essa etapa.
Outra obviedade irritante é que a educação segue
não sendo prioridade dos governantes e do Estado brasileiro. Isso se percebe
agora no decorrer da campanha eleitoral pela dificuldade que a maioria dos
candidatos tem de discutir e formular propostas relevantes para a educação.
Umas das coisas mais claras é que educação não é
uma política pública barata. Desde quando investir na qualidade de vida do
homem e do cidadão é algo que possa ser mensurável em quantias?
Eu lembrei a frase do ex-reitor da Universidade de
Harvard, Dereck Bok. Ele disse, talvez falando para um desses governantes que se
diz austero, que “se você acha que educação é cara, experimente a ignorância”.