quinta-feira, 23 de agosto de 2012

OS CANDIDATOS, SUAS PROMESSAS E SUAS PROPOSTAS.








O caro ouvinte já está acostumado. Começa a campanha eleitoral e os candidatos desandam a fazer propostas das mais variadas e a prometerem de tudo um pouco. Alguns até afirmam aquilo que sabem ser falso.



Mas, uma coisa é prometer e outra é propor. A promessa é um compromisso moral e tem um sentido religioso. Como não havia, no passado, uma clara diferença entre religião e política, os candidatos (assim como os religiosos) faziam promessas, quando deveriam fazer propostas. A proposta é uma declaração para que se obtenha uma concessão, para se realizar um projeto, para se estabelecer um contrato, para que se receba um voto, enfim, a proposta é algo concreto do mundo da política.



Assim, não espere que o candidato lhe faça promessas. Dele, espere projetos, e não ideias mirabolantes que só existem no fantástico mundo de Bob, aquele personagem dos desenhos animados. Candidatos dizem que não são políticos, que não gostam da política, que são administradores. Aliás, desconfie disso. Como pode um político não gostar de política? É o mesmo de um jogador não gostar de assistir jogos.



Os candidatos falam em administrar, mas parecem desconhecer regras básicas da administração. Parece não saberem o que vem a ser o planejamento estratégico. É como se não fizessem um diagnóstico dos problemas para saberem que ações vão propor para seus eleitores.



Vejamos a proposta de implantar o Veículo Leve sobre Trilhos, o VLT, em Campina e João Pessoa. Foi diagnosticado que a melhor forma de resolver os problemas do transporte público dessas cidades é com o VLT? Se foi, que se apresente o projeto. Senão, porque tantos falam disso?



Os candidatos desconhecem o que os administradores chamam de os 5W e os 2H. É uma ferramenta utilizada para se fazer planejamento estratégico de ações públicas ou privadas. Vindos do inglês, os 5W são: What (O que deve ser feito?); Who (Quem deve fazer?); Why (Que benefício traz?); Where (Onde será feito?); When (Quando deve ser feito?). Já os 2H, são: How (Como será feito?); e How Much (Quando custa para ser feito?).



Vejamos a construção de um Centro Administrativo em Campina Grande. Dos 07 candidatos a prefeito, 05 falam disso. Eles apenas respondem a 1ª pergunta (o que fazer?), mas as outras ficam no ar. A perguntinha mágica (how much, quanto custa) tem que ser respondida. Quando perguntados sobre isso os candidatos gostam de dizer que vão buscar os recursos. Mas, vão buscar onde? Com quem? Quando? E, claro, quanto é que vão buscar?



E têm aquela promessa que os candidatos se acham obrigados a fazer. Eles colocam na cabeça que é uma demanda da população e desandam a prometer sem pensar nas consequências. É que, em geral, os políticos não se dão ao trabalho de perguntar aos eleitores o que eles querem. Seria bom perguntar ao cidadão se ele prefere um VLT andando por fora da cidade ou ônibus operando de forma eficiente.



E têm as promessas vazias. Um candidato quer fazer uma passagem subterrânea na Av. Floriano Peixoto que integraria as praças da Bandeira e Clementino Procópio. É uma obra cara e que não se sabe para que serviria. Essa é a típica ideia que não passou pelo crivo dos 5W e 2H.







E existem as propostas que são feitas para compor um programa político e “rechear” o discurso do candidato, que não podem ficar de 4 a 5 meses com a mesma proposta. Senão fica como Cristovam Buarque que na eleição presidencial de 2006 só falava de educação.



Assim se fala em construir escolas e hospitais, em adquirir transporte público (alguém disse que vai colocar GPS nos ônibus), em triplicar o número de creches. São propostas boas, mas sem passá-las pelo crivo dos 5W e 2H, viram coisas do fantástico mundo de Bob.



O candidato diz que vai construir casas. Mas, tem que dizer de onde virão os recursos. Onde serão construídas e se no local existe infraestrutura. Senão, constrói a casa, mas num lugar que não tem iluminação, rede de esgoto, transporte, área de lazer, escola, posto de atendimento.



E tem aquelas propostas que o candidato gostaria de realizar, por uma necessidade pessoal ou do grupo ao qual ele pertence. Em geral, envolve um interesse político-ideológico. Propuseram criar uma empresa municipal de transporte público, estatizando as empresas particulares. É o tipo da proposta inviável, pois os empresários do setor têm poder econômico e político para impedir isso.



E tem o candidato que quer ficar bem com os funcionários públicos. Aí ele diz que vai dobrar o salário do funcionalismo. Mas, eleito, vê que o orçamento não permite aumentos. Termina ficando mal com os servidores. O que é preciso considerar não é a proposta em si, mas sua viabilidade financeira, técnica, política, ambiental. Enfim, não basta dizer que vai fazer, tem que demonstrar como vai fazer e porque vai.