O caro ouvinte já está acostumado. Começa a
campanha eleitoral e os candidatos desandam a fazer propostas das mais variadas
e a prometerem de tudo um pouco. Alguns até afirmam aquilo que sabem ser falso.
Mas, uma coisa é prometer
e outra é propor. A promessa é um compromisso moral e tem um sentido religioso.
Como não havia, no passado, uma clara diferença
entre religião e política, os candidatos (assim como os religiosos) faziam
promessas, quando deveriam fazer propostas. A proposta é uma declaração para que se obtenha uma concessão, para se realizar
um projeto, para se estabelecer um contrato, para que se receba um voto, enfim,
a proposta é algo concreto do mundo da política.
Assim, não espere que o candidato lhe faça
promessas. Dele, espere projetos, e não ideias mirabolantes que só existem no
fantástico mundo de Bob, aquele personagem dos desenhos animados. Candidatos dizem que não são políticos, que não
gostam da política, que são administradores. Aliás, desconfie disso. Como pode
um político não gostar de política? É o mesmo de um jogador não gostar de
assistir jogos.
Os candidatos falam em administrar, mas parecem
desconhecer regras básicas da administração. Parece não saberem o que vem a ser
o planejamento estratégico. É como se não fizessem um diagnóstico dos problemas
para saberem que ações vão propor para seus eleitores.
Vejamos a proposta de implantar o Veículo Leve
sobre Trilhos, o VLT, em Campina e João Pessoa. Foi diagnosticado que a melhor
forma de resolver os problemas do transporte público dessas cidades é com o
VLT? Se foi, que se apresente o projeto. Senão, porque tantos falam disso?
Os candidatos desconhecem o que os administradores
chamam de os 5W e os 2H. É uma ferramenta utilizada para se
fazer planejamento estratégico de ações públicas ou privadas. Vindos do inglês,
os 5W são: What (O que deve ser
feito?); Who (Quem deve fazer?); Why (Que benefício traz?); Where (Onde será
feito?); When (Quando deve ser feito?). Já os 2H, são: How (Como será
feito?); e How Much (Quando custa para ser feito?).
Vejamos a construção de um Centro Administrativo em
Campina Grande. Dos 07 candidatos a prefeito, 05 falam disso. Eles apenas
respondem a 1ª pergunta (o que fazer?), mas as outras ficam no ar. A perguntinha
mágica (how much, quanto custa) tem que ser respondida. Quando perguntados
sobre isso os candidatos gostam de dizer que vão buscar os recursos. Mas, vão
buscar onde? Com quem? Quando? E, claro, quanto é que vão buscar?
E têm aquela promessa que os candidatos se acham
obrigados a fazer. Eles colocam na cabeça que é uma demanda da população e
desandam a prometer sem pensar nas consequências. É que, em geral, os políticos não se dão ao
trabalho de perguntar aos eleitores o que eles querem. Seria bom perguntar ao cidadão
se ele prefere um VLT andando por fora da cidade ou ônibus operando de forma
eficiente.
E têm as promessas vazias. Um candidato quer fazer
uma passagem subterrânea na Av. Floriano Peixoto que integraria as praças da
Bandeira e Clementino Procópio. É uma obra cara e que não se sabe para que serviria. Essa é a típica ideia que não passou pelo
crivo dos 5W e 2H.
E existem as propostas que são feitas para compor
um programa político e “rechear” o discurso do candidato, que não podem ficar de 4 a 5 meses com a mesma
proposta. Senão fica como Cristovam Buarque que na eleição presidencial de 2006
só falava de educação.
Assim se fala em construir escolas e hospitais, em
adquirir transporte público (alguém disse que vai colocar GPS nos ônibus), em
triplicar o número de creches. São propostas boas, mas sem passá-las pelo crivo
dos 5W e 2H, viram coisas do fantástico mundo de Bob.
O candidato diz que vai construir casas. Mas, tem
que dizer de onde virão os recursos. Onde serão construídas e se no local existe
infraestrutura. Senão, constrói a casa, mas num lugar que não tem iluminação,
rede de esgoto, transporte, área de lazer, escola, posto de atendimento.
E tem aquelas propostas que o candidato gostaria de
realizar, por uma necessidade pessoal ou do grupo ao qual ele pertence. Em
geral, envolve um interesse político-ideológico. Propuseram criar uma empresa municipal de transporte público,
estatizando as empresas particulares. É o tipo da proposta inviável, pois os empresários
do setor têm poder econômico e político para impedir isso.
E tem o candidato que quer ficar bem com os
funcionários públicos. Aí ele diz que vai dobrar o salário do funcionalismo.
Mas, eleito, vê que o orçamento não permite aumentos. Termina ficando mal com os
servidores. O que é preciso considerar não é a proposta em si, mas sua
viabilidade financeira, técnica, política, ambiental. Enfim, não basta dizer
que vai fazer, tem que demonstrar como vai fazer e porque vai.