Eu tenho, aqui mesmo no meu blog, o que chamo de a “lista
do bem”. São filmes, livros, músicas, cantores, enfim, são as coisas que me
fazem bem. Mas, eu tenho, também, o meu índex. É o meu “cesto de lixo” onde
coloco tudo que faz com que eu acredite menos na humanidade.
Infelizmente, meu índex tem crescido bastante. E eu
me peguei preocupado com o fato de me desagradar com tantas coisas que são do
nosso tempo. Às vezes, eu me acho um chato que com tudo se aborrece.
Já me disseram que não
tem problema em ir a um show de uma dessas bandas de pornô-forró, pois “é só
para se divertir e tudo mundo gosta”. Mas, o que posso fazer se acho esse
negócio de “jogar a mãozinha pro céu” e “tirar o pezinho do chão” uma grande
chateação?
Outra coisa que me chateia são os modismos, que é o
que se faz e se defende sem um mínimo de senso crítico. É o que você é
praticamente obrigado a gostar para não ter que ser chamado de... chato. Dito
de outra forma é aquilo que você tem que gostar para poder ser aceito em seu
meio.
Quer um exemplo? Surge aquela cantora, que todos
dizem que tem uma “voz linda”, que cantou com Roberto Carlos e que Caetano
Veloso disse que é boa. Pronto! Todo mundo tem que gostar, mesmo que ela cante
uma musiquinha chinfrim com sotaque de sertanejo. Nada pode ser mais chato!
Hoje em dia é moda ir às manifestações. Importa
pouco se você vai para a marcha da maconha, das vagabundas, para o protesto
contra a corrupção ou para a parada gay. Importa ir e depois postar fotos em
uma rede social.
Nas manifestações surgem os vários tipos de chatos
ditos politizados. Eu não sei o que é mais
chato, se o alienado individualista de direita ou o consciente social e
politicamente correto de esquerda?
Outra chatice é o tal do jantar inteligente, onde
se demonstra o que se pensa saber, se bebe vinhos caros e se aprecia comida
politicamente correta, além de se discutir a fome na África. Nesses jantares
não pode faltar o tal do “eno-chato”, e o “ex-guerrilheiro”. Se puder ter uma
socialite consciente de seu papel social e aqueles eleitores “críticos” do PT,
que até aceitam que o mensalão existiu, tanto melhor. Mas, eles são todos uns
chatos de galocha.
E tem que ter aquele que, na hora da sobremesa, vai
levantar a bandeira do “bom combate”. Pode ser um protesto contra a poluição -
todos irão de bicicleta para o trabalho. Uma chatice só!
Mas, para mim, o pai de todos os chatos é aquele
que vive discursando contra a política. É o “analfabeto político” que Bertolt
Brecht, que não era chato, tanto falava. O chato apolítico faz discursos
enfurecidos contra a política. Ele esquece, ou desconhece, que a dimensão
política existe de fato. Que a política não se restringe as coisas dos
partidos, do Congresso ou da eleição. O chato apolítico desconhece que a política
é um instrumento que nós, seres humanos, criamos para poder nos relacionar sem
ter que nos agredir o tempo todo.
Mas, nós temos os chatos politizados. Além do
“ecologista de gabinete” e do “esquerdista pós-neoliberalismo”, existe o
“moderno reacionário”, que quer ser novo conservando velharias.
Rafinha Bastos disse que “para a mulher feia o estupro é uma benção”. Já o teólogo Luiz
Felipe Pondé disse que “a mulher enruga
se não tiver um homem que a trate como objeto”. Qual a diferença deles para
Paulo “estupra, mas não mata” Maluf? São todos reacionários, sendo que Rafinha
e Pondé são modernos.
E o que dizer da deputada e ex-atriz Myriam Rios
que fala de sexualidade como se estivesse na alta Idade Média? E o guru do
obscurantismo nacional, o inquisidor-mor Jair Bolsonaro, racista e homofóbico a
defender os “direitos da família brasileira”? São todos chatérrimos!
Marcelo Semer definiu essa gente como os “quixotes
sem utopias, denunciando quem contesta seu direito de propagar preconceitos”.
Sob a fajuta justificativa que as pessoas tem que ser retiradas de suas zonas
de conforto, agridem os que defendem valores como liberdade e igualdade.
Veja-se que nas eleições passadas o Estado laico
foi destronado em nome de interesses obscuros por modernos reacionários. A
caixa de Pandora da intolerância foi aberta. Espero que ela não seja reaberta
nestas eleições.
Aliás, não tem coisa
mais chata do que candidato prometendo as coisas mais mirabolantes do mundo,
dizendo que vai reinventar a roda e que vai “moralizar a administração
pública”.
Pois é, não tem jeito, eu sigo desgostando dessa
chatice toda. Já me senti culpado, ficando deslocado, por não gostar de algo
que todos gostam. Aliás, fazer uma coluna falando dessas coisas é uma grande
chatice!