quarta-feira, 13 de novembro de 2013

A CRÔNICA DE UMA TRAGÉDIA ANUNCIADA.





Hoje eu vou falar de uma tragédia diária, nem sempre silenciosa, que assistimos em geral calados, impassíveis, como se nada tivéssemos haver com ela. Eu sei que sempre se poderá dizer: “mas, e daí, todo mundo sabe que isso acontece”. Mesmo assim, eu vou insistir, pois se os dados estatísticos não servem para nos surpreender ou estarrecer, eu devo fazer com que minha indignação, além da vergonha que sinto, sirva para despertar algo de positivo em alguém.



Há uns dias vimos o caso de uma criança abandona pelos pais. Ela estava trancada em um apartamento em meio a muito lixo e restos de comida, com fome, sem água e sem roupas. Os vizinhos chamaram a polícia que a resgatou daquela infame situação. A criança de apenas três anos de idade estava, óbvio, assustada e foi entregue ao Conselho Tutelar que a levou para um abrigo.


A mãe se apresentou ao Conselho, mas perdeu a guarda da criança como tinha mesmo que ser. Ela disse que precisava trabalhar, que não tinha com quem deixar o filho e que não podia leva-lo a uma creche. Mas, precisava deixar a criança naquela situação? Que tipo de gente é essa que abandona um ser indefeso numa situação daquela? Eu desconheço como essa criança está agora. O que eu sei é que ela vai levar para o resto da vida a marca indelével do abandono, de que foi deixada para trás. O fato é que essa criança tornou-se um número, mais um, de nossa tragédia anunciada.



O Conselho Tutelar de Campina Grande fez um levantamento e descobriu que de janeiro a outubro desse ano foram registrados 18 casos de crianças abandonas pelos seus responsáveis. Em 2012 foram 12 casos, i.e., a situação está piorando. O Conselho Tutelar informou que 13, dessas 18 ocorrências, foram registradas na Zona Sul de Campina Grande. São em bairros como Tambor, Rosa Cruz, Catolé e Presidente Médici onde se acham mais casos de crianças entregues a própria sorte.



A julgar pelo grande número de crianças e adolescentes, de todas as idades, que vejo abandonados pelas ruas de nossa cidade não tenho porque duvidar das informações prestadas pelo Conselho Tutelar. São as párias de nossa sociedade que vagam pelas calçadas do centro de Campina Grande. São os sem presente e sem futuro, são os que não têm história para contar, que esperam os sinais de trânsito fechar para nos pedir algo que possa iludir a fome que sentem.



Talvez, você possa dizer que não é verdade o que eu estou dizendo, que não tem visto crianças abandonadas pelas ruas. Na verdade, elas estam lá, sim, não é que você não as veja, é que você simplesmente não as percebe, pois elas já fazem parte da paisagem. Se você, que anda nas ruas, não consegue perceber esses seres que não são nem crianças nem adultos, imagine nossos governantes e representantes que não possuem o hábito de andarem pelas ruas, pois preferem ficar em seus gabinetes.

 


Eu fiquei realmente querendo ter alguma explicação para tantos casos de abandonos infantis. Foi, mais uma vez, o Conselho Tutelar que aplacou minha curiosidade ao demonstrar que a maioria dos casos de abandono se relaciona com as drogas. Do mesmo jeito que o tráfico e consumo de drogas está por trás de quase toda a violência a que somos submetidos diariamente, essas crianças vão sendo abandonada pelos seus pais devido ao uso abusivo de drogas ilícitas e de bebidas alcoólicas.



Segundo o Conselho Tutelar é na faixa etária entre 0 e 12 anos de idade onde se concentram os casos de abandona. Os pais viciados deixam os filhos em casa, entregues a própria sorte, para consumirem drogas e buscar dinheiro para adquiri-las. Em geral, as famílias cujos pais são viciados vivem em situação de extrema pobreza nas áreas mais miseráveis da cidade. Muitas das crianças abandonadas foram geradas por mães que se prostituem em troca de drogas para saciarem seus vícios. Muitos pais viciados terminam presos após cometerem pequenos delitos a fim de obterem dinheiro para comprarem drogas. Terminam sendo jogados nos presídios onde vão deteriorar indefinidamente. Esse é o retrato dessa crônica de uma tragédia mais do que anunciada. Por favor, não feche os olhos para ela. Se você é um agente público pense no que pode fazer de forma a contribuir para mudar essa realidade.



As instituições coercitivas precisam combater mais e melhor o tráfico de drogas. Os governantes precisam ter como prioridade o investimento maciço em escolas e creches. Precisam investir na qualidade de vida do cidadão e no lugar onde ele mora. Você quer ajudar de alguma forma? Diga a seu vereador e a seu prefeito que não quer ver o dinheiro, fruto dos impostos que pagamos, sendo gasto com futilidades. E se, neste momento, você está pensando em deixar uma criança para trás pense bem se gostaria que fizessem isso com você.




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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.





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