Hoje eu vou falar de uma tragédia diária, nem sempre
silenciosa, que assistimos em geral calados, impassíveis, como se nada tivéssemos
haver com ela. Eu sei que sempre se poderá dizer: “mas, e daí, todo mundo sabe
que isso acontece”. Mesmo assim, eu vou insistir, pois se os dados estatísticos
não servem para nos surpreender ou estarrecer, eu devo fazer com que minha
indignação, além da vergonha que sinto, sirva para despertar algo de positivo
em alguém.
Há uns dias vimos o
caso de uma criança abandona pelos pais. Ela estava trancada em um apartamento
em meio a muito lixo e restos de comida, com fome, sem água e sem roupas. Os
vizinhos chamaram a polícia que a resgatou daquela infame situação. A criança
de apenas três anos de idade estava, óbvio, assustada e foi entregue ao
Conselho Tutelar que a levou para um abrigo.
A mãe se apresentou ao
Conselho, mas perdeu a guarda da criança como tinha mesmo que ser. Ela disse
que precisava trabalhar, que não tinha com quem deixar o filho e que não podia
leva-lo a uma creche. Mas, precisava deixar a criança naquela situação? Que
tipo de gente é essa que abandona um ser indefeso numa situação daquela? Eu
desconheço como essa criança está agora. O que eu sei é que ela vai levar para
o resto da vida a marca indelével do abandono, de que foi deixada para trás. O
fato é que essa criança tornou-se um número, mais um, de nossa tragédia
anunciada.
O Conselho Tutelar de
Campina Grande fez um levantamento e descobriu que de janeiro a outubro desse
ano foram registrados 18 casos de crianças abandonas pelos seus responsáveis.
Em 2012 foram 12 casos, i.e., a situação está piorando. O Conselho Tutelar informou
que 13, dessas 18 ocorrências, foram registradas na Zona Sul de Campina Grande.
São em bairros como Tambor, Rosa Cruz, Catolé e Presidente Médici onde se acham
mais casos de crianças entregues a própria sorte.
A julgar pelo grande número de
crianças e adolescentes, de todas as idades, que vejo abandonados pelas ruas de
nossa cidade não tenho porque duvidar das informações prestadas pelo Conselho
Tutelar. São as párias de nossa sociedade que vagam pelas calçadas do centro de
Campina Grande. São os sem presente e sem futuro, são os que não têm história
para contar, que esperam os sinais de trânsito fechar para nos pedir algo que
possa iludir a fome que sentem.
Talvez, você possa dizer que não é verdade o que eu estou
dizendo, que não tem visto crianças abandonadas pelas ruas. Na verdade, elas
estam lá, sim, não é que você não as veja, é que você simplesmente não as
percebe, pois elas já fazem parte da paisagem. Se você, que anda nas ruas, não
consegue perceber esses seres que não são nem crianças nem adultos, imagine
nossos governantes e representantes que não possuem o hábito de andarem pelas
ruas, pois preferem ficar em seus gabinetes.
Eu fiquei realmente querendo ter alguma explicação para tantos
casos de abandonos infantis. Foi, mais uma vez, o Conselho Tutelar que aplacou
minha curiosidade ao demonstrar que a maioria dos casos de abandono se
relaciona com as drogas. Do mesmo jeito que o tráfico e consumo de drogas está por
trás de quase toda a violência a que somos submetidos diariamente, essas
crianças vão sendo abandonada pelos seus pais devido ao uso abusivo de drogas
ilícitas e de bebidas alcoólicas.
Segundo o Conselho Tutelar é na faixa etária entre 0 e 12
anos de idade onde se concentram os casos de abandona. Os pais viciados deixam
os filhos em casa, entregues a própria sorte, para consumirem drogas e buscar
dinheiro para adquiri-las. Em geral, as famílias cujos pais são viciados vivem
em situação de extrema pobreza nas áreas mais miseráveis da cidade. Muitas das
crianças abandonadas foram geradas por mães que se prostituem em troca de
drogas para saciarem seus vícios. Muitos pais viciados terminam presos após
cometerem pequenos delitos a fim de obterem dinheiro para comprarem drogas.
Terminam sendo jogados nos presídios onde vão deteriorar indefinidamente. Esse
é o retrato dessa crônica de uma tragédia mais do que anunciada. Por favor, não
feche os olhos para ela. Se você é um agente público pense no que pode fazer de
forma a contribuir para mudar essa realidade.
As instituições coercitivas precisam
combater mais e melhor o tráfico de drogas. Os governantes precisam ter como
prioridade o investimento maciço em escolas e creches. Precisam investir na
qualidade de vida do cidadão e no lugar onde ele mora. Você quer ajudar de alguma forma? Diga a seu
vereador e a seu prefeito que não quer ver o dinheiro, fruto dos impostos que
pagamos, sendo gasto com futilidades. E se, neste momento, você está pensando
em deixar uma criança para trás pense bem se gostaria que fizessem isso com
você.
Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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