quinta-feira, 28 de novembro de 2013

CAMPINA, ONDE ESTÁ TUA PAZ E TEU TRABALHO?



Eu aprendi a cantar o hino de Campina Grande na escola. Quando cursava História, na antiga UFPB (Campus II), entendi por que nele se diz que aqui o “progresso se expande”. Entendi, ainda, porque ganhamos o título de “capital do trabalho e da paz”. Aliás, eu sei bem porque a “Rainha da Borborema” ficou sendo chamada de capital do trabalho. Tem haver com todo o desenvolvimento econômico que experimentamos quando descobrimos o enorme potencial do algodão para gerar riquezas. Mas, nunca entendi porque fomos nomeados a capital da paz. Deve ser porque todo e qualquer hino é feito para enaltecer qualidades, independente se elas existem ou não. O hino de Campina Grande fala de coisas que eu nem sei se existem.


Hoje, com esse quadro de insegurança e violência que enfrentamos, dizer que Campina Grande é a capital da paz é no mínimo uma piada de mau gosto. Também tenho dúvidas se ainda podemos dizer que o trabalho é nosso maior capital. A tirar por dados recentemente divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) temos uma série de problemas sociais a encarar. O fato é que os níveis da desigualdade social que apresentamos contrariam os discursos oficiais.


O IBGE sempre divulga dados do último Censo e das pesquisas que vão sendo feitas para atualizar os recenseamentos de cada 10 anos. Recentemente, inclusive, se divulgou que finalmente atingimos a marca de 400.000 mil habitantes. Ficamos todos felizes com mais uma prova do quanto somos grandes. Certo? Errado. Enquanto houver uma parcela, por menos que seja, desses 400.000 mil campinense em condições sub-humanas não temos do que nos orgulhar.


O IBGE fez um levantamento, em Campina Grande, dos chamados “aglomerados subnormais”, que é a forma politicamente correta de se nomear as favelas, e nos revela dados alarmantes. Se eu fosse um governante ficaria bastante preocupado. A primeira questão é que temos quase 28.700 campinenses morando nesses aglomerados subnormais, que eu vou ficar mesmo é chamando de favela, pois dizer que a pessoa reside num lugar subnormal é rebaixa-la a uma condição de plena humilhação.


Quase 10% da população de Campina Grande habitam em locais onde as condições materiais são sempre difíceis.  O IBGE informa, também, que metade desses quase 30 mil não possui carteira assinada. De antemão não esqueçamos que a combinação de informalidade no trabalho com condições ruins de moradia deixa a população refém dos programas governamentais de fundo assistencialista e com fins meramente eleitoreiros. Não possuir carteira assinada deixa o trabalhador sem garantias legais e revela a desigualdade de oportunidades, pois é pela Carteira de Trabalho que se pode comprovar a experiência profissional que leva a pessoa a ter melhorias salariais e de vida.


A média da renda das pessoas que moram em favelas de Campina Grande é de meio salário mínimo. Ou seja, temos um expressivo contingente de campinenses que recebe por mês algo em torno de R$ 340.00. Com uma renda tão baixa é difícil buscar melhorias nas condições de moradia. Daí, essa parcela da população ficar refém das políticas públicas dos governos municipal, estadual e nacional e ficar impossibilitada de caminhar com as próprias pernas.


O IBGE revela o óbvio. Os moradores das favelas campinenses possuem bem menos automóveis do que os moradores de outras áreas, assim são totalmente dependentes do caótico sistema de transporte público de uma cidade do porte de Campina Grande. Também, possuem menos condições para adquirir bens como máquina de lavar roupas e computadores. Ato contínuo, acessam bem menos a internet e terminam tendo mais dificuldade em dispor de informação e conhecimento.

 

 O IBGE mostra que a maioria dos domicílios das favelas de Campina Grande estam em áreas de declive moderado, compostos por um único pavimento. Em geral, o acesso a esses domicílios é feito por becos e vielas mal iluminados e, claro, sem linha de esgoto. A maioria dessas favelas ficam às margens de córregos, rios ou lagos e lagoas. Quase todos poluídos, com água salobra, trazendo riscos à saúde da população. Outro dia vi o relato de uma moradora da “Favela do papelão” que fica no Bairro Dinamérica.


Dizia ela que: “Aqui o esgoto é a céu aberto. Quando chove a situação piora, pois a água invade os barracos e ainda convivemos com ratos, baratas e outros insetos”.  O relato da moradora traduz a frieza dos dados do IBGE numa realidade desumana. O relato dessa moradora e os dados do IBGE mostram que nossa suposta vocação para a grandeza esbarra no fato de que parte de nossa população está condenada ao atraso. O fato, é que, por hora, somos a capital da desigualdade e, pior, sem ter paz.


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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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