Eu aprendi a cantar o hino de Campina Grande na escola. Quando
cursava História, na antiga UFPB (Campus II), entendi por que nele se diz que aqui
o “progresso se expande”. Entendi, ainda, porque ganhamos o título de “capital
do trabalho e da paz”. Aliás, eu sei bem porque a “Rainha da Borborema” ficou
sendo chamada de capital do trabalho. Tem haver com todo o desenvolvimento
econômico que experimentamos quando descobrimos o enorme potencial do algodão para
gerar riquezas. Mas, nunca entendi porque fomos nomeados a capital da paz. Deve
ser porque todo e qualquer hino é feito para enaltecer qualidades, independente
se elas existem ou não. O hino de Campina Grande fala de coisas que eu nem sei
se existem.
Hoje, com esse quadro
de insegurança e violência que enfrentamos, dizer que Campina Grande é a capital
da paz é no mínimo uma piada de mau gosto. Também tenho dúvidas se ainda
podemos dizer que o trabalho é nosso maior capital. A tirar por dados recentemente
divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) temos
uma série de problemas sociais a encarar. O fato é que os níveis da
desigualdade social que apresentamos contrariam os discursos oficiais.
O IBGE sempre divulga
dados do último Censo e das pesquisas que vão sendo feitas para atualizar os
recenseamentos de cada 10 anos. Recentemente, inclusive, se divulgou que
finalmente atingimos a marca de 400.000 mil habitantes. Ficamos todos felizes
com mais uma prova do quanto somos grandes. Certo? Errado. Enquanto houver uma
parcela, por menos que seja, desses 400.000 mil campinense em condições
sub-humanas não temos do que nos orgulhar.
O IBGE fez um levantamento, em Campina Grande, dos chamados
“aglomerados subnormais”, que é a forma politicamente correta de se nomear as
favelas, e nos revela dados alarmantes. Se eu fosse um governante ficaria bastante
preocupado. A primeira questão é que temos quase 28.700 campinenses morando nesses
aglomerados subnormais, que eu vou ficar mesmo é chamando de favela, pois dizer
que a pessoa reside num lugar subnormal é rebaixa-la a uma condição de plena
humilhação.
Quase 10% da população de Campina Grande habitam em locais
onde as condições materiais são sempre difíceis. O IBGE informa, também, que metade desses
quase 30 mil não possui carteira assinada. De antemão não esqueçamos que a
combinação de informalidade no trabalho com condições ruins de moradia deixa a
população refém dos programas governamentais de fundo assistencialista e com
fins meramente eleitoreiros. Não possuir carteira assinada deixa o trabalhador
sem garantias legais e revela a desigualdade de oportunidades, pois é pela
Carteira de Trabalho que se pode comprovar a experiência profissional que leva
a pessoa a ter melhorias salariais e de vida.
A média da renda das pessoas que moram em favelas de
Campina Grande é de meio salário mínimo. Ou seja, temos um expressivo
contingente de campinenses que recebe por mês algo em torno de R$ 340.00. Com
uma renda tão baixa é difícil buscar melhorias nas condições de moradia. Daí,
essa parcela da população ficar refém das políticas públicas dos governos
municipal, estadual e nacional e ficar impossibilitada de caminhar com as
próprias pernas.
O IBGE revela o óbvio. Os moradores
das favelas campinenses possuem bem menos automóveis do que os moradores de
outras áreas, assim são totalmente dependentes do caótico sistema de transporte
público de uma cidade do porte de Campina Grande. Também, possuem menos
condições para adquirir bens como máquina de lavar roupas e computadores. Ato
contínuo, acessam bem menos a internet e terminam tendo mais dificuldade em
dispor de informação e conhecimento.
O IBGE mostra que a maioria dos domicílios das
favelas de Campina Grande estam em áreas de declive moderado, compostos por um
único pavimento. Em geral, o acesso a esses domicílios é feito por becos e
vielas mal iluminados e, claro, sem linha de esgoto. A maioria dessas favelas
ficam às margens de córregos, rios ou lagos e lagoas. Quase todos poluídos, com
água salobra, trazendo riscos à saúde da população. Outro dia vi o relato de
uma moradora da “Favela do papelão” que fica no Bairro Dinamérica.
Dizia ela que: “Aqui
o esgoto é a céu aberto. Quando chove a situação piora, pois a água invade os
barracos e ainda convivemos com ratos, baratas e outros insetos”. O relato da moradora traduz a frieza dos
dados do IBGE numa realidade desumana. O relato dessa moradora e os dados do
IBGE mostram que nossa suposta vocação para a grandeza esbarra no fato de que
parte de nossa população está condenada ao atraso. O fato, é que, por hora,
somos a capital da desigualdade e, pior, sem ter paz.
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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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