sexta-feira, 15 de novembro de 2013

O GOLPE MILITAR DA REPÚBLICA


 


Quando a República foi proclamada, em 1889, faltavam apenas 11 anos para o século XX. Vários países da América Latina já eram republicanos desde o começo do século XIX. O Chile, por exemplo, tornou-se República em 1823. A imagem clássica, oficial, da Proclamação da República é um óleo sobre tela pintado por Benedito Calixto em 1893. Nele se vê apenas homens fardados, alguns montados em cavalos, muitos canhões e um quartel ao fundo. A Proclamação foi mesmo um golpe!



Um grupo de militares, e civis, proclamou um ato de força unilateral passando ao largo da sociedade. Foi por isso que o jornal “Diário Popular” trouxe em 16/11/1889 um artigo de Aristides Lobo com o sugestivo título “E o povo assistiu a tudo bestializado”. Ao contrário do que se imagina a abolição da escravidão (em 1888) não foi causa determinante para a Proclamação. Influiu mesmo à adesão do Exército a causa republicana. Ele voltava vitorioso da Guerra do Paraguai e queria mais poder.



Por questões internas e por desentendimentos de oficiais do Exército com deputados e membros do governo, as Forças Armadas foram paulatinamente deixando de ser monarquistas e aderindo ao republicanismo. No campo civil, desde 1870 os republicanos vinham se organizando sob a liderança de Quintino Bocaiuva e Saldanha Marinho. Em 1873, o Partido Republicano Paulista foi fundado pelos cafeicultores, mas apenas para pressionar o Imperador.



Durante o século XIX, o positivismo se tornou a ideologia oficial do Exército. A aversão dos positivistas ao regime monarquista e a convicção de que uma ditadura militar era a forma ideal de governo para o Brasil foi o mote para a causa republicana. Em quatro anos os desentendimentos entre militares e políticos cresceram ao ponto do imponderável. Tornou-se comum militares de alta patente irem a imprensa criticar os políticos ou reclamar direitos. A chamada “questão militar” começou em 1886.



O Cel. Cunha Matos atacou os deputados e o governo num artigo publicado no Jornal A Imprensa. O Ministro da Guerra sentiu-se ofendido e puniu Cunha Matos. Em 1887, o Cel. Sena Madureira atacou, também em artigo, o senado federal. Foi, também, punido. Ato contínuo, oficiais de Porto Alegre e do Rio de Janeiro se manifestaram contra uma lei que proibia militares de falarem em público sobre questões políticas e profissionais sem prévia autorização do Ministério da Guerra.



Em 1888, os militares aprovaram um documento onde reafirmavam a intenção de lutar pelo direito de defender a honra da caserna. Também, repudiavam punições e exigiam que o governo não interferisse nos assuntos dos quartéis. Com a abolição da escravidão, os militares viram a oportunidade de fazerem mudanças. O tenente-coronel Benjamim Constant, com outros líderes militares e civis, convenceu o Marechal Deodoro da Fonseca que era preciso mudar o regime.


 



O ideal positivista de construir uma ditadura militar no Brasil encantou corações e mentes no Exército e em alguns poucos setores da sociedade. Os movimentos republicanos, elitistas, por certo, contribuíram para o desenrolar dos fatos. Deodoro foi convencido de que uma simples mudança em nível ministerial não era solução para a crise institucional reinante. Benjamim dizia que só um golpe militar resolveria a situação humilhante em que a Coroa estava mergulhando o Exército.



Deodoro convenceu os vários setores militares, principalmente o Marechal Floriano Peixoto que apoiava o Imperador, com o argumento de que “... a coisa será apenas contra os casacas”. Era assim que os militares chamavam os políticos. Em 11/11/1889 Deodoro disse que “... não há mais o que esperar da monarquia. Façamos a República. Benjamim e eu cuidaremos da ação militar, Quintino Bocaiuva e seus amigos cuidam de todo o resto”.



Por “todo o resto” entenda-se o pais e a organização de um sistema política que iria surgir, dali a quatro dias, gerado por um golpe, por insatisfações de toda sorte e pela mentalidade autoritária de que é assim que se faz mudanças. O caro ouvinte notou que o povo está ausente nessa história? Pudera ele não participou da proclamação! Já dizia Aristides Lobo em seu artigo: “O povo assistiu àquilo bestializado, atônito, surpreso, sem conhecer o que significava. Muitos acreditaram seriamente estar vendo uma parada militar”.



Felizmente, ou infelizmente, a história oficial deu ao povo um papel de destaque para um ato quase que exclusivamente militar. O resultado dessa aventura golpista nos foi trágico, pois vivemos 36 anos sobre ditaduras no século XX, a fora os anos onde vestígios de democracia coexistiam sob uma couraça de autoritarismo. Desde a Proclamação ainda não tivemos mais de 35 anos contínuos de democracia sem que ditaduras e autoritarismos de todo tipo solapem as instituições democráticas.



Do fim do regime militar, em 1985, até aqui ainda somamos menos anos do que os vividos sob as duas ditaduras do século XX. Nossa jovial e festiva democracia eleitoral ainda tem muito que evoluir para se tornar verdadeiramente republicana.



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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.







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