Finalmente, acabou o show. Depois de oito anos a quadrilha
que montou um esquema para desviar dinheiro público e subornar parlamentares
está atrás das grades. Eu não vou chorar pelo leite derramado e nem reclamar
que as penas foram brandas. Eu não quero fazer justiça com as próprias mãos e
me recuso a participar de um lixamento público. Também, não vou defender que os
mensaleiros deveriam ser condenados a pena de morte como vi fazerem em algumas
análises emocionais.
Mas, nem por isso, concordo com a presidente Dilma que
disse que nossa democracia é cada vez mais sólida, pois não estou vendo
acontecer uma revolução. O que temos, apenas, é uma quadrilha que assaltou o
Estado sendo punida na forma da lei. Cada país tem as leis que merece, legadas
pela sua história. Nosso sistema político-jurídica foi, e é, leniente para com
uma elite que sempre se colocou acima das leis e do próprio Estado. Essa elite
formatou o sistema político para atender seus interesses.
Não é a toa que temos o “foro privilegiado”, que se dá aos
que tem amplas vantagens político-econômicas para não serem responsabilizados
por crimes cometidos. Temos, também, o expediente da “prisão especial” para
quem tem curso superior. E como esquecer a “Lei Fleury”, feita para proteger um
torturador assassino a serviço do regime militar? Esta lei que permite que o
réu primário, com residência fixa, responda em liberdade a um processo foi
feita para privilegiar o delegado Sergio Paranhos Fleury quando se tentou processá-lo.
Os mensaleiros que foram recolhidos a unidades prisionais
em Brasília estam, sim, tendo uma série de privilégios. Eles deveriam ter penas
mais severas? Sim, mas não esqueçamos que não temos tradição em punir membros
de nossa elite. Foi muito difícil chegarmos até aqui por causa de nosso
complexo de vira-latas. Somos colonizados, temos pena de julgar e condenar
àqueles que nos exploram. Por isso que o show midiático em torno da prisão dos
mensaleiros nos parece tão chocante. Somos complexados, gostamos mesmo é de ver
o pobre, negro, favelado, sendo algemado e jogado no fundo de um camburão.
Quando se trata de prender o branco, rico, morador do Morumbi, ficamos, assim,
perplexos!
O presidente do STF,
Joaquim Barbosa, parece nos dizer: “acabou,
circulando, vão cuidar de suas vidas”. A pergunta, agora, é: o que vamos
fazer sem as modorrentas sessões do STF julgando os mensaleiros pela tarde
afora? Nada, não vamos fazer nada. Se somos uma democracia de verdade, como
quer crer a presidente Dilma, aceitemos o resultado do jogo. Os mensaleiros que
cumpram suas penas e nós cuidemos de nossas vidas. Simples assim! Chega de
firulas e confusões jurídicas. Chega de embargos infringentes e de declaração.
Que essa gente vá de uma vez cumprir suas sentenças. Pouco importa se passarão
um, dez ou cem anos presos, o que interessa é que a impunidade não venceu mais
uma vez.
Claro. O chefe maior
que deu as coordenadas para a formação da quadrilha, o ex-presidente Lula, foi
blindado e ficou de fora. É que ricos e pobres desse país de mãe preta e pai
João não aceitam que seu líder maior seja punido. Ainda tem o show midiático
das prisões, mas isso, também, vai passar. E pouco importa que petistas
aloprados se manifestem em frente a Polícia Federal em Brasília cantando,
pateticamente, o hino da 3ª internacional socialista.
Mesmo com ressalvas
que faço ao nosso “Dark Man”, Joaquim Barbosa, reconheço que se não fosse ele
ficaríamos indefinidamente com os condenados apresentando recursos, impetrando embargos
de declaração sobre os embargos de declaração. A depender de Ricardo
Lewandowski, e de sua turma, Zé Dirceu e et caterva não só seriam inocentados
como indenizados por danos morais e materiais. O final do julgamento virou um
“FLA X FLU” onde venceu que bateu com mais força na mesa.
O presidente do STF foi preciso ao
bradar que os recursos que não atendam a requisitos básicos são meramente
protelatórios e devem ser liminarmente desconsiderados. Não tem jeito mesmo,
até para cumpri a lei temos que ser autoritários. O fato é que a condenação
dessa gente é, infelizmente, um ato de destaque, uma espécie de evento
"excepcional". A imprensa internacional tem dito que finalmente nós,
brasileiros, tivemos coragem de punir um político que foi Ministro de Estado.
O mensaleiro Delúbio Soares postou em uma rede social que
estava se entregando a polícia para cumprir a pena imposta por um tribunal de
exceção. Não tem nada de exceção, pelo contrário, cumpriu-se a regra óbvia: que
rouba tem que ser preso. Não há nada de exceção neste julgamento, muito de
menos de ilegítimo. O cientista político Marcos Nobre afirmou que “O que vai
tornar ilegítimo é se no futuro, em casos semelhantes, aplicarem penas
diferentes". Eu espero que o que vimos sirva para alguma coisa. Torço para
que o desfecho da novela mensalão nos eduque politicamente. Daqui a um ano
vamos ter a oportunidade de mostrar o que aprendemos nas eleições. Espero
sermos aprovados no teste das urnas.
Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO,
COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário