Em março de 2012, a Companhia de Trânsito da Polícia
Militar (CPTRAN) e o ministério público declararam guerra às chamadas “boates
de otário” na cidade de Campina Grande. Hoje, eu vou constatar, além de
lamentar, que essas instituições perderam a guerra. Pois, as “boates de otário”
seguem por aí azucrinando nossas vidas.
E eu continuo tendo que ocupar esse espaço com um assunto literalmente
perturbador.
As “boates de otário” são aqueles carros equipados com os
tais paredões de som e estam por toda parte e em todo tipo de evento público ou
privado. Elas abusam do direito de
transitar e poluem o meio ambiente. Há quase dois anos as instituições
resolveram agir. Partiram para uma ofensiva que parecia promissora. Hoje é
sexta-feira, vai começar mais um final de semana, se o caro ouvinte andar por
alguns bairros da cidade saberá que a ofensiva fracassou.
Na época, tramitava na Câmara dos Deputados um projeto de
lei para proibir o funcionamento em espaços públicos desses atentados a nossa
saúde mental. Eu torcia para que o projeto se tornasse lei e, claro, que ela
tivesse efetividade. Como se percebe,
não aconteceu nem uma coisa nem outra. Os paredões seguem se exibindo nos locais
de livre acesso ao público. Meu desejo de que eles fossem finalmente banidos de
nossa sociedade continua sendo tão somente uma vontade.
Eu sugiro pensarmos sobre a questão
política de tão sério problema, já que o espaço público é definido como aquele
que é de uso comum e posse coletiva. O fato é que persiste entre nós a confusão
entre o que é público e o que é privado. Alguns lidam com o bem comum como se
fosse sua propriedade, ao bel prazer de seus interesses. Ao estacionar um
paredão daqueles em plena praça público e acionar suas turbinas sonoras, o cidadão
está se valendo do espaço de todos para algo particular.
Certa vez, indaguei comerciantes e transeuntes de ruas
centrais de Campina Grande sobre a poluição sonora, muitos disseram que sempre
foi assim e que nunca vai mudar. Todos se mostraram indignados com esse estado
de coisas. Mas, eu não aceito como normal o absurdo de ver o espaço público
invadido por uma gente que faz na rua aquilo que só se faz em casa e assim
mesmo em baixo volume para não incomodar a vizinhança.
Energúmenos e insensatos de todas as classes sociais
danificam nossos ouvidos com o excremento que a indústria musical produz e as
malas de carros depositam nas ruas. E fazem isso sem nenhum pudor, sem culpas,
tudo em nome da diversão. Qual o direito que um idiota qualquer tem de estacionar
na Praça da Bandeira ou no Parque do Povo, em qualquer hora do dia ou da noite,
abrir a mala de seu carro e colocar em alto volume um desses “forrós de
plástico” escatológico? O tosco dirá que o carro é seu e o espaço é público. Na
verdade, age assim por contar com a impunidade. Tivesse certeza da punição não
o faria. Soubesse que a instituição coercitiva de plantão viria tomar-lhe o
carro não abusaria de seu direito.
Sob o argumento, por certo justo, da
necessidade de se divertir jovens deseducados transitam por onde bem querem com
seus execráveis paredões e “boates de otário”. Na verdade, eles estam cumprindo
outra necessidade, a da exibição. E, por favor, não me falem de zona de
exclusão ou de silêncio, pois as ondas sonoras se propagam e desconhecem as
limitações espaciais impostas pelo poder público. A poluição sonora é uma praga
que fere a individualidade do cidadão educado.
Se ele resolve reclamar, logo é
destratado por aqueles que foram deseducados compulsivamente. Se resolve ligar
e denunciar ou a Polícia Militar ou a SUDEMA fica sendo jogado de uma
instituição a outra, tal qual uma bola de pingue –pongue. O fato é que o poder público não é eficaz na
fiscalização da forma como os espaços públicos são utilizados, pois o mesmo Estado
que regulamenta é o que tem que fiscalizar. E nosso Estado não consegue
assoviar e chupar cana ao mesmo tempo.
Pior, gestores temem
tomar medidas por recearem perder votos dos que se sintam prejudicados e
porque, quando candidatos, são também poluidores do meio ambiente com suas
propagandas eleitorais. Quem esqueceu o barulho intenso das últimas três
eleições em Campina Grande? Candidatos falavam, em seus guias eleitorais, em
defender o meio ambiente, mas poluíam as ruas com seus carros de som e suas
pavorosas carreatas. A iniciativa da CPTRAN e do Ministério Público foi louvável.
Mas, é uma pena que essas instituições não se saíram vitoriosas na guerra que
declararam contra toda essa idiotice sem fim dos paredões e boates de otário.
Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário