Em 1966 o engenheiro aeroespacial norte-americano Edward
Murphy conduzia testes acerca da tolerância do corpo humano aos efeitos da
gravidade. Após uma série de erros e fracassos, Murphy afirmou que “se algo
pode dar errado, dará”. Assim, ele enunciou a “Lei de Murphy” que diz que "se
entre duas formas de executar uma tarefa, a primeira for um desastre, está será
escolhida”. Murphy era um pessimista incurável e dizia que o dia seguinte será
sempre pior do que o dia anterior. Mas, a pérola do mau humor de Murphy e a que
diz que nada é tão ruim que não possa piorar. Eu estou com séria desconfiança
que os deputados e senadores de nossa República resolveram aplicar a “Lei de
Murphy” no governo federal e, claro, em nós.
É que o Senado já
aprovou em 1º turno a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) que cria o
"Orçamento Impositivo". Hoje, os senadores voltam a apreciar a matéria.
Em seguida ela será novamente enviada para a Câmara dos Deputados. A PEC do orçamento impositivo propõe,
literalmente, o que diz sua nomenclatura. Por ela, o governo federal fica
obrigado a liberar verbas para despesas inseridas, por deputados e senadores,
no Orçamento da União. Era só o que nos faltava!
Como se não bastasse eles usarem a
liberação das verbas das emendas como moeda de troca nas votações de interesse
do governo, entenderam, agora, que o Executivo não tem que opinar sobre a
destinação das verbas das emendas. Os parlamentares resolveram que o governo
não tem que se negar a liberar verbas. Para eles, o poder executivo deve se comportar
como a fonte pagadora dos recursos para que eles apliquem em suas emendas que,
em grande medida, são meramente eleitoreiras.
Nossos parlamentares resolveram aplicar a Lei de Murphy, de
que nada é tão ruim que não possa piorar, sobre o poder executivo. Se os
recursos das emendas orçamentárias pesavam às costas do governo, agora vão se
tornar um fardo impossível de carregar. Hoje, a Lei Orçamentária, que prevê
receitas e despesas do governo federal, autoriza despesas decorrentes das
emendas, mas não impõe a liberação dos recursos. O governo pode ou não cumprir esses gastos até
porque eles não são obrigatórios.
O que os congressistas querem é alterar o dispositivo que
dá ao governo a prerrogativa de decidir quais verbas serão liberadas. Eles
querem retirar mais um poder de barganha das mãos do governo. Vejamos o que
determina o texto aprovado pelos senadores. O valor total das emendas
corresponderá a 1,2% da Receita Corrente Líquida da União, que é a soma do que
o governo arrecada, descontados os repasses para Estados e municípios. Notem
que a porcentagem é pequena, mas a mordia é descomunal.
Vejam como a Lei de Murphy se aplica em favor dos
parlamentares, contra o governo e contra a própria sociedade brasileira. Atualmente,
cada parlamentar pode indicar até R$ 15 milhões em emendas que não são
necessariamente liberadas. Com essa PEC do orçamento, chamada na cara dura de
impositiva, cada congressista terá direito a um valor, menor, de R$ 13,8
milhões, mas a liberação será garantida. Ou seja, aceitaram perder R$ 1,2
milhões, para terem a garantia que o dinheiro virá.
Os parlamentares estam preocupados com seus interesses.
Eles querem a parte menor do orçamento para usá-la da forma que bem quiserem. Com
todo o resto o governo pode fazer o que lhe der na telha já que o legislativo
não parece querer fiscalizar. No texto aprovado no 1º turno da votação o
governo fez valer o critério que 50% das emendas devem ser destinadas para a
saúde. Mas, foi uma dura negociação, pois os deputados só aceitavam que essa
vinculação fosse de 40%.
Se a PEC for aprovada a festa será
grandiosa. Em 2014, cerca de R$ 8 bilhões serão destinados às emendas
parlamentares. A conta é simples. São 513 deputados federais, mais 81
senadores. Com cada um tendo direito a R$ 13,8 milhões em emendas, a imposição
custará aos cofres públicos à bagatela de R$ 8 bilhões. O Senador Wellington
Dias definiu bem o espírito da coisa. Ele disse que “é constrangedor apresentar uma emenda, dizer que está liberando
dinheiro para um calçamento, e, ao chegar o momento das liberações, nada
acontecer".
O senador disse que o orçamento impositivo é
uma conquista. Com certeza! Uma grandiosa conquista do Poder Legislativo que
segue avançando sobre o terreno do executivo, já que os poderes brasileiros nem
se unem e muito menos se separam. O
Senador Humberto Costa, governista que é, disse que: “se a emenda parlamentar
já é um absurdo, pior sendo impositiva". Já o senador Jarbas Vasconcelos disse
que o texto é “um engodo, uma verdadeira lorota, que se trata de mais uma porta
aberta à corrupção”.
O orçamento
impositivo é um ato de improbidade administrativa e política. Ele é uma traição
aos princípios democráticos da Constituição, na medida em que joga na lata do
lixo os princípios da separação dos poderes que norteiam nosso sistema
político.
Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário