Em 1993, quando o PSDB de FHC e o PT de Lula se enfrentavam
pela 1ª vez, para ver quem governaria o Brasil, Darcy Ribeiro disse que não sabia
quem ia ganhar a eleição, mas que tinha a certeza de que o PMDB comporia o
governo do vencedor. Eu lembro sempre dessa bem humorada tirada do nosso grande
Darcy Ribeiro todas às vezes que vejo lideranças nacionais do PMDB ameaçando
deixar o governo federal. É que o PMDB é governista em alta definição. Por
isso, eu nunca creio nessas ameaças.
No passado, tal qual uma criança mimada, a cada vez que o
PMDB se sentia contrariado partia para a chantagem emocional. E isso acontecia, também, nos Estados pelo
Brasil afora. As lamúrias eram sempre as mesmas. Quando o PMDB não recebia os
cargos que queria, ameaçava deixar o governo que estava apoiando. Ser apoiado
pelo PMDB requer muito jogo de cintura, muita paciência e muitos cargos e
empregos, Dilma Rousseff que o diga.
Mas, as coisas
mudaram. O PMDB é hoje (junto com o PT) o partido mais forte do país. Renan
Calheiros preside o Senado Federal. Henrique Alves comanda a Câmara dos
Deputados. E, claro, Michel Temer é o vice-presidência da República. Dos quatro
nomes que compõem a linha sucessória da presidente Dilma, três são do PMDB, que
ainda controla os Ministérios da Agricultura, Previdência, Turismo, Aviação
Civil e Minas e Energia.
Dizer que o PMDB é da
base aliada do governo é pouco. Ele não apoia o governo, ele é o próprio
governo. Mas, sua avidez pelo poder é incontrolável. O PMDB está em pé de
guerra por cargos e pelas disputas eleitorais. É que os partidos brasileiros
vivem mesmo em função dessas coisas. Depois que o PSB de Eduardo Campos deixou
o governo, o PMDB pediu a Dilma o Ministério da Integração Nacional, que o
senador paraibano Vital Fº assumiria. Dilma parece não querer dar o sexto
ministério ao PMDB. Deu-se a confusão.
Só que, agora, o PMDB
não pode mais bater o pé e dizer que vai deixar o governo, pois Michel Temer
teria que renunciar a vice-presidência. Em política não se cristaliza certezas,
mas eu apostaria que as ameaças de hoje serão os acordos de amanhã. Ciente de
sua força, o PMDB tenciona a relação com o PT. Eles se enfrentam para ver quem
fica com mais ministérios. Inclusive, o
PMDB chegou a defender a redução dos ministérios. Puro jogo de cena, para tentar
ficar bem com os manifestantes de junho.
O PMDB defendeu que o governo
ficasse com 20 ministérios. Mas, Dilma disse que vai seguir com seus 39 ministros.
É que o PMDB quer o governo só para si e Dilma quer, e precisa, manter seu
governo de coalizão, senão não se reelege. Os petistas dizem que o PMDB está
sabotando o governo. Michel Temer disse que ia falar com Dilma para ameaçar o rompimento.
Dilma nunca escondeu o desconforto de ter que lidar com essa herança
fisiológica que Lula lhe deixou.
No começo de seu governo, Dilma até tentou fugir do leonino
cerco que o PMDB lhe armou. Ela parecia querer uma base aliada menor. Parecia
querer se livrar do compromisso de ter que distribuir tantos cargos para o PMDB.
Mas, Dilma sabe bem que se fizer isso empurra o PMDB para os braços de seus
adversários em vários Estados, mesmo que tenha que conviver com ele no Palácio
do Planalto. Essa é vida nada fácil de
quem faz aliança com um partido como o PMDB.
Quem tem um aliado desses, não precisa de um PSDB lhe
fazendo oposição. A cada nova votação, as negociações ficam mais complexas. Na aprovação
da MP dos Portos os votos do PMDB foram conquistados na base da troca de apoio
por emendas orçamentárias. Desde o fim da ditadura militar em 1985, com a
eleição de Tancredo Neves, que o PMDB compõe o governo federal. De José Sarney
a Dilma, passando por Fernando Collor, todo mundo beijou a mão do PMDB para
poder governar.
Sarney, que foi da Arena e do PDS, só governava porque o
PMDB dava lastro a sua gestão, através da liderança de Ulysses Guimarães.
Collor deu o Ministério da Justiça a Bernardo Cabral, um histórico
“pemedebista”. Itamar Franco só estabilizou o governo, depois do impeachment de
Collor, porque distribuiu vários ministérios entre senadores do PMDB. FHC se
aliou com o PFL, hoje DEM, mas acariciava o PMDB com cargos em todos os
escalões do governo.
Lula conseguiu ampla maioria no
Congresso por causa dos espaços que dava ao PMDB e graças, claro, a Zé Dirceu e sua quadrilha que compravam
deputados. Não satisfeito, Lula trouxe o PMDB para dentro do governo quando
impôs Michel Temer a Dilma. Brigar com o PMDB leva a ingovernabilidade. Um
partido que têm 20 senadores, 77 deputados federais, mais de mil prefeitos e
cinco governadores de Estado não pode ser desprezado num sistema político
baseado no governo de coalizão. E é por isso mesmo que não se pode crer nas
birras do PMDB, pois se por um lado o governo precisa dessa máquina partidária,
por outro ela só funciona se estiver sendo lubrificada pelos cargos que o próprio
governo lhe oferece.
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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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