Quinta-feira, 12
de junho, mais de 1 bilhão e meio de pessoas, no mundo inteiro, se postaram
diante das televisões para assistirem a transmissão da solenidade de abertura e
do primeiro jogo da Copa da FIFA. Esta foi uma das maiores audiências da
história. Enquanto isso, manifestantes protestavam contra a Copa da FIFA no
Brasil. Em pelo menos 06, das 12 cidades-sede da Copa do Mundo, houveram
protestos com bombas de gás lacrimogêneo, balas de borracha, pessoas feridas e
manifestantes detidos. Em São Paulo, a Polícia Militar usou da truculência de
sempre, com bombas de efeito moral e cassetetes, para dispersar manifestantes
numa estação de metrô próxima ao Itaquerão, onde a seleção brasileira jogaria
logo depois.
Em Porto Alegre, manifestantes tentaram se aproximar do local da FIFA Fan
Fest, mas a Polícia Militar não permitiu e várias pessoas foram detidas. Os que
foram presos, e não foram logo liberados, sofrerão pesadas punições. É que de
acordo com a Lei Geral da Copa, aprovada a toque de caixa pelo Congresso
Nacional, eles deverão ser enquadrados na Lei de Segurança Nacional, instrumento
antigo dos tempos da ditadura militar, por crime contra a pátria. Os
manifestantes gaúchos picharam muros dizendo: "FIFA go home", i.e.,
FIFA vá embora. Eles quebraram vidraças de bancos e do McDonald's, patrocinador
da Copa. Em Porto Alegre as manifestações são convocadas pelo “Comitê Popular
da Copa”.
Em Fortaleza não foi diferente. Manifestantes tentaram invadir a “FIFA Fan
Fest”. Em Brasília tentaram fazer um “catracaço” na estação de metrô da Praça do Relógio.
“Catracaço” é quando as pessoas pulam as catracas e entram nos trens sem pagar.
Mesmo com palavras de ordem contra a realização do Mundial, membros do Comitê
Popular da Copa disseram que estam protestando contra o fato de pessoas terem
sido removidas, a força, de seus locais de moradia por causa de obras para a
Copa. Já no sábado, a Polícia Militar mineira prendeu dez pessoas com coquetéis molotov.
Enquanto Colômbia e Grécia se enfrentavam no Mineirão, cerca de 200 pessoas
protestavam contra a Copa do Mundo na Praça Sete, no centro de Belo Horizonte.
Eu vi uma foto, tirada na manifestação de São Paulo, que exemplifica a
atual situação dos protestos. Nela se vê um jovem, sem máscara e com uma bolsa
às costas, com os braços levantados e as mãos espalmadas como se estivesse
pedindo calma. Bem a sua frente, numa distância de uns 2 metros, se vê um grupo
de uns 10 policiais com aquela roupa especial contra choques urbanos. Os
policiais portam escudos e um deles tem uma arma apontada em direção ao jovem
manifestante. Eu tentei imaginar o que poderia se passar na cabeça do jovem
manifestante para agir daquela forma. Lembrei a famosa foto do jovem chinês,
postado à frente de vários tanques de guerra, quando dos protestos da Praça da
Paz Celestial (1989) em Pequim.
Mas, logo em seguida, lembrei um filme que assisti quando era estudante do
Curso de História na UFPB. Chamava-se “O incrível exército de Brancaleone”. Ele
foi produzido em 1966, na Itália, e foi dirigido por Mario Monicelli. A
história se passa no ano 1.000 d.C., quando um cavaleiro francês é assassinado
por bandoleiros, depois de sair em busca de suas terras. Os bandoleiros decidem
encontrar as terras para delas tomar posse. Para isso, precisam de alguém que
finja ser cavaleiro. É aí que entra o atrapalhado Brancaleone. Ele passa a
liderar um pequeníssimo exército de homens esfarrapados, esfomeados e quase sem
armas, que vão perambulando pela Europa em busca da terra prometida e de
aventuras.
Tal qual os manifestantes brasileiros, contrários a Copa da FIFA, a
pequena armada de Brancaleone enfrentava a tudo e todos. Eles lutavam contra a peste negra, contra os
sarracenos e os bizantinos, além de guerrearem contra outros grupos de
bandoleiros. Este filme fez sucesso, tanto é que sempre que uma pequena
minoria, estabanada e desorganizada, resolve lutar contra uma maioria
organizada, e forte o suficiente para não se sentir ameaçada, logo se chama
essa minoria de “exército de brancaleone”. Longe de achar que os manifestantes
não têm lá suas razões, e convencido de que eles tem o sagrado direito de se expressarem,
mas não de depredarem um bem público ou privado que seja, me parece que eles
deveriam, também, assistir a Copa da FIFA.
É que eles cumpriram um papel político dos mais interessantes. Com suas
manifestações, contribuíram para que a sociedade brasileira tivesse um razoável
senso critico sobre os problemas que enfrentamos por causa da Copa da FIFA.
Mas, a Copa está acontecendo. Lutar contra ela é a mesma coisa de querer
impedir que o sol nasça ou se ponha. Essas manifestações terminam soando falso,
pois a Copa é o futebol, e o futebol está em nossa alma. É uma expressão de
nossa cultura. Talvez, este fosse o momento dos manifestantes de Brancaleone se
resguardarem, para outro momento, onde a Copa não poderá ser usada como
justificativa para rebeldias de toda sorte. Talvez este seja o momento de
vibrar com o maior espetáculo da terra -
o futebol.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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