terça-feira, 10 de junho de 2014

E NÃO É QUE VAI TER COPA?


Faltam apenas 02 dias para o início da Copa da FIFA. Na próxima quinta-feira, na metade da tarde, teremos a solenidade de abertura do grande evento e em seguida o jogo de abertura envolvendo a Seleção Brasileira e a Seleção da Croácia. Serão 64 jogos ao longo de 30 dias. A propaganda oficial do governo federal tem dito que esta será a Copa das Copas. Os patrocinadores e a própria FIFA tem feito um esforço fenomenal para despertar o interesse dos brasileiros pelo evento. Mas, não está sendo fácil, pois 61% dos brasileiros, segundo pesquisa do Instituto norte-americano Pew Research Center, estam convencidos de que a Copa prejudica o País, pois retira recursos que poderiam ser usados em serviços públicos.

Eu confesso que tenho me esforçado para me interessar pelo espetáculo em si. Sou bastante sincero em dizer que está muito difícil torcer pela Seleção Brasileira. Não é que eu vá torcer contra, mas dai vestir uma camisa verde-amarela vai uma grande distância. Eu não sou daqueles que é contra pelo prazer de ser. Eu não sou daqueles que torce para que tudo dê errado, pois quanto pior melhor. Mas, eu não posso fechar os olhos para tudo que aconteceu, e ainda acontece, em torno da organização da Copa da FIFA. Não penso ser possível torcermos alegremente pela nossa seleção, conscientes que estamos do altíssimo custo econômico, social e político que ainda teremos que pagar por causa da realização dessa Copa em nosso país.
Sempre esperamos muito para termos outra copa no Brasil, mas não a esse preço. É uma pena ter que admitir, mas a Seleção Brasileira vai entrar em campo, em busca do hexa campeonato, e eu só tenho olhos para o que acontece fora de campo.

O site UOL trouxe uma reportagem especial chamada “Em nome da Copa”, onde mostra que, para que o evento fosse organizado, operários morreram, leis foram desrespeitadas e bilhões foram gastos, desperdiçados ou desviados. Eu não quero convencer o caro ouvinte a não torcer pela Seleção Brasileira. O que quero é que não nos alienemos. Se a seleção começar a copa tendo um bom desempenho, sugiro não esquecermos o show de horrores que assistimos no entorno da Copa. São sentimentos contraditórios, eu bem sei disso. Mas, e na medida do possível, acho que podemos torcer pela seleção, mesmo que não seja a dos nossos sonhos, mantendo um senso razoavelmente critico em torno de tudo que vem acontecendo.

Não acho que podemos atender ao chamado do governo federal, para vibrarmos com a tal Copa das Copas, se este mesmo governo está disposto a nos reprimir, caso decidamos questionar nas ruas os desmandos de toda sorte na organização da Copa. É bom não esquecer que o Governo Federal e o Congresso Nacional se uniram, o que é raro, e aprovaram rapidamente um lei, outra coisa rara, que modificou o Código Penal para punir com mais rigor a ação de manifestantes e de "black blocs " estúpidos. Durante a Copa das Confederações, autoridades fizeram uso da Lei de Segurança Nacional, que é da época da ditadura militar, para enquadrar e reprimir a conduta de manifestantes detidos. Isso deve se repetir a partir de quinta-feira.

Passaremos um mês com uma legislação de exceção em vigor. É como se o governo, a pedido da FIFA, tivesse implantado uma espécie de Estado de Sítio para prever manifestações de toda sorte nos dias em que a Copa estiver acontecendo. Além do mais, os governos federal e estaduais ultrapassaram todos os limites da irresponsabilidade fiscal, política e jurídica ao assumirem todos os riscos para garantir a realização da Copa. Sem contar que se sujeitaram aos ditames da FIFA sem pestanejar. O Ministério Público Federal processou a FIFA e o Comitê Organizador Local por gastos que a União assumiu para com a Copa do Mundo. O Ministério Público questiona porque se investiu R$ 1,2 bilhão em estruturas temporárias e na transmissão do torneio.


O ministério quer saber por que se deixou de investir nos legados sociais para se colocar dinheiro em coisas que não são de interesse público. Aliás, nós também temos que procurar saber as razões para tamanho absurdo. É nosso direito. É nossa obrigação. O “Mané Garrincha” é a arena mais cara da Copa. Seu custo inicial foi de R$ 631 milhões, mas ela saiu por R$ 1,9 bilhão. O Tribunal de Contas do Distrito Federal atestou que houve superfaturamento. Aliás, isso ocorreu em todas as arenas. Nove operários já morreram nas obras das Arenas e em obras de infraestrutura. A Articulação Nacional dos Comitês Populares para a Copa afirmou que cerca de 250 mil pessoas foram despejadas de suas casas para que obras pudessem ser realizadas.

Eu ainda poderia citar muitos outros exemplos. Mas, não quero ser repetitivo. Insisto que a cada jogo, e que a cada vitória ou derrota da Seleção Brasileira, saibamos separar o joio do trigo. Dentro de campo teremos tão somente jogos de um esporte fenomenal. Fora de campo tem muita coisa importante em jogo. E não estou falando dos interesses da FIFA, dos seus patrocinadores e do governo. Falo dos interesses de uma sociedade que pode tirar algum proveito de tudo isso se tornando mais consciente, mais politizada, mais responsável para com seu próprio destino.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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