Enquanto escrevia esta coluna, assistia a “laranja mecânica” holandesa domesticando a fúria espanhola. Sabe o que é sentir vergonha da vergonha do outro? Foi o que senti ao ver o goleiro espanhol Iker Casillas engatinhando aos pés do holandês Robben. Assistindo a Holanda chacinando a Espanha, quase esqueci tudo que assisti no dia anterior. Na abertura da Copa da FIFA tivemos vaias, xingamentos, desorganizações de toda sorte e a violência explodiu nas ruas. Nenhuma novidade, mas aconteceu. Bom mesmo de ver foi a vitória, e a boa apresentação, do Brasil. Eu até acho que aquele pênalti, sofrido por Fred, aconteceu de fato, mas o que importa foi a superação da seleção, que virou o jogo depois de levar um gol contra.
A solenidade de abertura da Copa foi um fiasco. Claudia Leite,
Jennifer Lopez e o tal Pitbull, que eu sigo sem saber quem é e de onde vem,
pulando e gritando, em cima de um playback inaudível do tal tema da Copa, foi
tragicamente cômico. A cerimônia foi sonolenta e sem graça. Pudera, contrataram
dois belgas para falar da cultura brasileira. Não precisava tanto. Bastava
chamar um daqueles carnavalescos do Rio de Janeiro, com uma boa escola de
samba, que o show estava garantido. Repulsivamente triste foi aquele vexame
promovido pela elite quatrocentona de São Paulo. Enquanto, Neymar comemorava
seu 2º gol, uma gente mal educada, reacionária, ridiculamente fantasiada de
torcedores nacionalistas, xingava a presidente Dilma.
Eu senti uma profunda vergonha daquilo. Mas, não foi a vergonha
alienada de Ronaldo Nazário. Eu sentia vergonha pela falta de cortesia e de
gentileza dos paulistanos ao mandarem a presidente Dilma tomar umas
providências naquele lugar distante. Aquilo foi de um mau gosto a toda prova.
Existem mil maneiras de se protestar contra um governo, principalmente este que
tem se portado de uma maneira autoritária quando o assunto é manifestação
política contra ele mesmo. Mas, ofender a dignidade da pessoa que traz consigo
a instituição presidência da República foi repugnante e inaceitável. Sem contar
que essa pessoa é uma mulher. No país da Lei Maria da Penha, nem a
mulher-presidente é respeitada. Que lástima!
E vejam que eu não estou falando de vaias, pois, como diria Nelson
Rodrigues, no Brasil se vaia até minuto de silêncio. Os mesmos que choraram, ao
cantarem fervorosamente o Hino Nacional, outra instituição nossa, foram os que
xingaram a presidente. Lastimável, ainda, foi ver a atitude pusilânime, diria
medrosa, covarde, da presidente que se escondeu na última fila da tribuna de
honra e que sequer se levantou quando teve seu nome anunciado. O caro ouvinte
poderá dizer: “Mas, para quê? Para ser xingada?”. Não, para cumprir seu papel
constitucional de representar todos os brasileiros num evento da magnitude da
Copa do Mundo. O constrangimento de Joseph Blatter era além de visível,
constrangedor. Eu senti vergonha, pela vergonha que ele sentia.
Quando seu nome foi anunciado, ele se pôs de pé, parecia um
condenado indo à forca. Ele se levantou, resignado, como quem diz: “eis-me
aqui, podem vaiar”. A torcida não se fez de rogada e lhe ofereceu uma
sonoríssima vaia. Nesse momento, eu me senti vingado, por tudo que este senhor,
e a entidade que ele presidente, já fizeram de errado em nosso país. Mas, a
presidente Dilma soube retomar a dignidade de seu cargo no dia seguinte, apesar
de que em seus domínios. Ela disse que: “isso
não me enfraquece". Na sexta-feira, Dilma foi inaugurar mais uma obra
do PAC, em Brasília, e deu resposta a singular aos seus agressores: "Eu suportei, não foram agressões
verbais, foram agressões físicas, quase insuportáveis”.
Dilma se referia ao fato de ter sido torturada durante a ditadura
militar. De fato, quem enfrentou o pau-de-arara está, sim, preparada para suportar
vaias e xingamentos. Sobre a questão do enfraquecimento, Dilma se referiu às
eleições que virão em breve. A tirar pelo que vi nas redes sociais, e na
imprensa, os xingamentos não enfraqueceram Dilma. Pelo contrário, o tiro saiu
pela culatra, pois vi muitas manifestações de solidariedade para com a
presidente, inclusive de setores tucanos da imprensa paulista. O senador Aécio
Neves até tentou tirar proveito da situação. Ele disse que Dilma governa com
"mau humor" e "arrogância" e que as vaias e xingamentos são
resultado dessa postura. Aécio não deveria dar declarações no calor das
emoções.
Mas, já na sexta, Aécio reviu sua opinião. Ele deve ter visto a
reações contrárias às agressões e resolveu dar uma declaração eleitoralmente
correta. Aécio disse que apesar das críticas que fez, os limites do respeito
pessoal não devem ser ultrapassados. Enquanto Aécio titubeava entre bater ou
assoprar, Dilma tirava dividendos dos xingamentos. Mandar Dilma tomar aquelas
providências a fortaleceu. A grosseria se voltou contra os xingadores e fez
muita gente esquecer as responsabilidades do governo federal diante dessa Copa
de belos jogos e muita desorganização. Hoje, eu falei de acontecimentos em
torno da abertura da Copa. Amanhã, vou falar do que está acontecendo do lado de
fora das arenas. Não percam, amanhã, a história do exército de “brancaleone”
que ainda acha ser possível impedir que a Copa aconteça.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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