Na maioria dos
países da Europa, e nos EUA também, o ex-presidente é, assim como o presidente,
uma instituição nacional. Nas democracias consolidadas, o ex-presidente se
torna uma espécie de conselheiro das grandes questões nacionais e
internacionais. Nos EUA, depois de cumprir aquele ciclo de dois mandatos, o
presidente se retira do dia-a-dia da política. Em geral, um ex-presidente dos
EUA cria uma fundação que, dentre outras coisas, tem a função de cuidar do seu
legado político. O ex-presidente Bill Cliton se retirou da vida pública, quando
encerrou seu segundo mandato, em janeiro de 2001. Com os atentados terroristas,
de setembro de 2001, ele participou das mobilizações e das campanhas e depois
voltou a cuidar de sua fundação.
Na França e na Alemanha um ex-presidente só opina sobre uma questão política
se ela for realmente relevante. E tem mais, ele só opina se, e somente se,
houver certa mobilização social para que ele emita um juízo, uma deliberação ou
mesmo uma crença. Em alguns países, como o Chile, o ex-presidente tem o cargo
de senador vitalício. Mas, isso não lhe dá o direito de atuar na seara
política. É que como ele não é eleito, não pode dispor de uma cadeira no
parlamento. Neste caso, o cargo é bem mais um ritual. Já no Brasil, o
presidente só se torna ex-presidente depois que, literalmente, morre. Vejam o
caso de José Sarney e Fernando Collor que atuam no Congresso Nacional há
bastante tempo. Collor nem lembra que já sofreu um impeachment.
José Sarney vem sendo a eminência, nem um pouco parda, do governo federal
desde que deixou a presidência em março de 1990. Sarney nunca deixou de ser o
condestável, ou primeiro dignitário, dessa República pouco republicana em que
vivemos. Para nós, uma vez presidente, sempre presidente. Costumamos aceitar de
bom grado que o ex-presidente carregue pela vida afora o título honorífico de
presidente. É como se os votos, que ele uma vez recebeu, valessem pela vida
toda. Juscelino Kubitschek foi sempre chamado como tal. Os oradores que
discursaram, a beira de seu caixão, o chamavam de presidente. Os ditadores que
cassaram os direitos políticos, que prenderam e enviaram JK ao exílio nunca
deixaram de trata-lo de presidente.
Conta-se que, ao renunciar à presidência da República, Jânio Quadros
deixou Brasília e foi para São Paulo. Por via das dúvidas, levou consigo a
faixa presidencial, i.e., ele renunciava ao ônus do cargo, mas não ao bônus do
titulo. Inclusive, enquanto foi prefeito de São Paulo, na 2ª metade da década
de 1980, Jânio Quadro pedia para ser tratado pelo cargo maior que ocupou. Era
hilário ver o prefeito de São Paulo sendo chamado de presidente. Mas, em
matéria de políticos, que carregam as pompas e circunstância da presidência,
nada se compara a FHC e Luiz Inácio Lula da Silva. Não é de hoje que FHC e Lula
brigam, como dois noveleiros, para ver quem foi o melhor presidente.
Vez por outra eles agem como se seus partidos não existissem ou como se o
país fosse governado por uma junta de três presidentes. FHC e Lula se comportam
como se ainda fossem presidentes, mesmo que sem as responsabilidades da presidente
Dilma. No início da semana, eles mais pareciam duas comadres, que vez por outra
brigam por não terem nada melhor para fazer. Tudo começou com um discurso de
FHC na convenção nacional do PSDB, que oficializou a candidatura de Aécio
Neves. FHC disse que os xingamentos à Dilma, na abertura da Copa, eram
inaceitáveis e partiu para o ataque. Disse ele: "Não queremos mais corruptos, ladrões que ficam empulhando”.
Ele ainda disse que Lula "usa
palavras feias, o que não é educativo".
Lula acusou o golpe e devolveu na mesma moeda. Ele disse que: “Vi FHC falar, com a maior desfaçatez para
que se acabe com a corrupção. Ele devia dizer quem estabeleceu a maior
promiscuidade quando começou a comprar voto para a reeleição”. FHC
devolveu: “eu não acusei ninguém quando
falei em ver corruptos longe, não era preciso vestir a carapuça”. Lula
rebateu que o PT é “atacado por ter
governado melhor que a elite" e que FHC “não aprendeu a ter sentimentos na faculdade”. Lula chegou mesmo a
dizer que a "perseguição ao PT é similar
à que levou Getúlio Vargas ao suicídio”. E foi por aí. Os dois
ex-presidentes ficaram matraqueando enquanto seus partidos se articulam para as
eleições e a Copa do Mundo pega fogo.
Interessa ver que no PSDB e no PT existem os que dizem que FHC e Lula mais
atrapalham do que ajudam quando resolvem defender seus candidatos e partidos. O
problema é que eles se batem em torno de suas biografias e legados. O fato é
que eles não se importam com a política que lhes rodeia. Lula atua o tempo todo
para retornar ao governo com as eleições de 2018. FHC sabe que não tem mais
essa oportunidade, mas não abre mão de ser, como Sarney, um condestável da
República. FHC e Lula agem como se a faixa presidencial ainda lhes pertencesse.
Para eles, o cargo, que um dia ocuparam, lhes foi dado pela providência divina
até o fim dos dias. A ironia disso tudo é que quanto mais eles brigam, mais
parecidos ficam.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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