Em 2007 aconteceu, no
Chile, a 17ª Conferência Ibero-Americana com a presença de vários chefes de
Estado. O então presidente da Venezuela, Hugo Chávez, roubou a cena com
discursos sem fim e isso corroeu a paciência dos presentes à conferência. Chávez
tanto interferiu o presidente José Luiz Zapatero que o Rei da Espanha, Juan
Carlos, perdeu a paciência e lhe disse em tom exasperado: “¿Mas por qué no te
callas?”. Essa história rodou o mundo e se tornou um bordão muito utilizado até
hoje. Com a derrota nas eleições de 2010, José Serra foi à França proferir
palestra sobre as “Relações econômicas América Latina/Europa”. Num dado momento,
ele desandou a falar mal de Lula e Dilma. Alguém, então, gritou da plateia:
“Mas, porque não te calas?”.
Certa vez, Felipe Massa deu entrevista ao Jornal espanhol Mundo
Desportivo e abusou das reclamações sobre seus adversários, em especial Fernando
Alonso, que é espanhol. No diz seguinte, o jornal estampava em sua manchete: “Massa,
por qué no te callas?”. A frase virou mania na Internet e fez sucesso como toque
para celulares na Europa. A banda de rock Jota Quest a utilizou na música La
Plata. Eu lembrei dela por causa de Ronaldo Luís Nazário, aquele que um dia foi
chamado de “o fenômeno do futebol”. Ronaldo, que é membro do Comitê Organizador
Local da Copa da FIFA, é uma espécie de embaixador do Brasil nas questões da
Copa. Na verdade, Ronaldo funciona mesmo é como um dos representantes da FIFA
no tal Comitê Organizador Local.
Não se sabe bem as responsabilidades de Ronaldo na organização da
Copa. O que se vê é ele priorizando os negócios de sua empresa, a “9ine Sports and
Entertainment”, que cuida da carreira de pessoas como Anderson Silva, Rafael
Nadal e Gustavo Lima. Ronaldo aparece sempre com Joseph Blatter e Jérôme Valcke,
presidente e secretário-geral da FIFA, respectivamente. É que ele não está
nesse grande negócio, que é a Copa do Mundo, como brasileiro e sim porque tem
contratos e investimentos com a FIFA. Ronaldo, como Pelé, Romário, Paulo Coelho
e o governo federal têm seus interesses nesse negócio. Inclusive, para Ronaldo,
a Copa da FIFA já está ganha, pois só o que ele fatura com os patrocinadores independe
da Seleção brasileira ser campeão do mundo.
Mas, Ronaldo andou se preocupando com sua imagem perante os
brasileiros por causa dos desmandos e da desorganização dessa Copa dos
Horrores. De alguma forma ele entendeu que ainda precisa desse país do qual
disse sentir vergonha. Ronaldo resolveu se manifestar. É como se ele quisesse
mostrar que nada tem haver com o triste espetáculo que ajudou a montar e que
terá início daqui a dez dias. Assim como Romário e Paulo Coelho, Ronaldo cuspiu
no prato da Copa do qual se refastelou. A cada nova declaração, de quem já foi o
“fenômeno do futebol”, minha vontade é dizer: “mas, porque não te calas?”. Ronaldo
não para de falar sobre a Copa do Mundo e as eleições, sobre o governo e a
oposição, sobre o racismo e as manifestações.
Quando faltavam 100 dias para o início da Copa, Ronaldo pediu, se
referindo ao acidente que vitimou dois operários nas obras da Arena Itaquerão,
que não se usasse a tragédia para se duvidar da abertura da Copa. Ronaldo
falava em nome da FIFA. Mas, ele não deixou de fazer média com a torcida do
Corinthians e disse que: “Os operários deram a vida para a construção do sonho
corintiano”. Ainda deve vir à tona a escabrosa negociação, para erguer o tal
sonho corinthiano, da qual Ronaldo fez parte. Naquele momento, ao ser
questionado sobre o fato de que o governo deixava de investir em educação e
saúde para construir as faraônicas Arenas, Ronaldo saiu-se com a seguinte
pérola: “não se faz Copa com hospitais, e
sim com Arenas”.
Como ninguém disse “mas, porque não te calas?”, Ronaldo seguiu
criando suas polêmicas estultas. Recentemente, se referiu a um sentimento de
vergonha em relação à Copa do Mundo e lamentou o fato do Brasil não ter um
legado no Mundial. Mas, não deveria, pois foi ele mesmo que disse que hospitais
não são importantes. A questão é que o discurso de Ronaldo é político. É que
ele já está fazendo campanha eleitoral para seu candidato a presidente Aécio
Neves, do qual se diz amigo. Ronaldo tem dito que sua vergonha é pela população
que esperava investimentos e que tudo que foi prometido não foi entregue. Ronaldo
tem direito a fazer campanha para quem quiser, mas porque inverter o discurso
sobre a Copa nesse momento?
Porque antes era preciso blindar a Copa e agora é preciso ataca-la?
Como bem disse o jornalista Juca Kfouri, Ronaldo não dá ponto sem nó. O
ex-jogador Rivelino disse que “Ronaldo demorou muito para ficar com vergonha da
Copa e do Brasil”. Há uns dias atrás, Ronaldo disse que: “Sobre os vândalos,
tem que baixar o cacete neles, tirar da rua". Para um problema político, social
e de segurança pública Ronaldo oferece a saída da força. Notem que ele não
defendeu o uso da lei, mas sim o uso da força. Agora é tarde, não tem mais
jeito. Como não temos uma Ruan Carlos para perguntar a Ronaldo porque ele não
se cala, vamos ter que aturá-lo até o final da Copa. Pior, vamos ter que vê-lo
falar em nosso nome sempre que ele achar que pode e deve.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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