Os deuses do
futebol nos agraciaram com o que já está sendo considerada uma das melhores
Copas do Mundo desde a primeira em 1930. É que eles estam nos recompensando por
tudo que tivemos que aturar para termos essa Copa no Brasil. Eu falo das
maravilhosas partidas que já tivemos. Jogos como aquele entre Uruguai e Itália,
para ver quem iria para as 8ª de final, ou a carnificina que a Holanda aplicou
sobre a Espanha, nos enchem de esperança de que há, sim, salvação para o
futebol. Eu sei que não temos que nos conformar, mas tem valido a pena deixar
os problemas fora das arenas e aproveitar um espetáculo que só mesmo o futebol
é capaz de proporcionar. Claro, a mim não cabe discutir o jogo em si.
Mas, devo analisar o que está no entorno da Copa. Tenho visto muitas
coisas interessantes, sejam boas, sejam ruins. Os acontecimentos da abertura da
Copa, com os xingamentos a presidente Dilma, ainda devem ser melhor analisados.
O comportamento das torcidas é algo que devemos atentar. Mas, chama à atenção
as ausências ilustres. Em todas as outras copas do mundo, se viam pessoas
famosas, do esporte, da música, da política, espalhadas pelos estádios
prestigiando os jogos. Quem não lembra de Mick Jagger, vocalista dos Rolling
Stones, assistindo aos jogos das copas da Alemanha e da África? Na Copa
passada, o presidente da FIFA, Joseph Blatter, assistiu a quase todos os jogos
sempre em locais de fácil exposição.
Nelson Mandela, mesmo debilitado, foi assistir alguns poucos jogos. Mas,
aqui no Brasil as autoridades e os dirigentes do futebol sumiram da Copa. Pior,
até a mascote FULECO não é vista pelas arenas. O que será que está acontecendo?
Na África, Blatter fazia questão de aparecer nos telões. Aqui, no Brasil, se
esconde deliberadamente. Até agora, ele só assistiu a dois jogos: o primeiro,
entre Brasil e Croácias, quando foi sonoramente vaiado, e depois ele foi a
Brasília ver Suíça e Equador. Porque Blatter não vai aos jogos? Elementar, ele
não quer mais ser vaiado e muito menos ser mandado tomar providencias, naquele
distante lugar, tal qual fez aquela gente estulta e grosseira com a Presidente
Dilma.
A impressão que tenho é que os brasileiros resolveram punir os políticos e
os diretores da FIFA com uma espécie de proibição. É como se os eleitores
estivessem dizendo: “depois de tudo que vocês aprontaram, não são merecedores
de assistirem aos jogos”. As manifestações, a violência, a desorganização e
nossa horrorosa mania de vaiar quem quer que seja, afugentaram as autoridades
internacionais. Niclas Ericson, diretor de TV da FIFA, relatou o receio de
mostrar imagens desagradáveis para o mundo todo. Na copa de 2010, a mascote
Zakumi estava presente em tudo. A cada nova cerimonia, que abria os jogos, lá
estava Zakumi. A mascote acompanhava os jogadores, de todas as nações, até o centro
do gramado e de lá só sai para que o jogo pudesse iniciar.
No Brasil, ao contrário, mal se vê FULECO. É bem verdade, que os
brasileiros não se encantaram muito pela mascote. Também, com esse nome, não
dava mesmo para criar alguma empatia. Mas, existe uma explicação para o sumiço
do FULECO. Délia Fisher, chefe de imprensa da FIFA, disse que FULECO está, sim,
nas arenas e que ele sempre aparece antes dos jogadores entrarem em campo para
a fase de aquecimento. Mas, ela frisou que é preciso estar bem atento a TV para
que se possa vê-lo. Eu fico a me perguntar se com 34 câmeras espalhadas, em
cada um das 12 arenas, seria mesmo preciso ficar atento. Além do mais, a
mascote FULECO não é tão discreta assim que possa passar despercebida. De fato,
a questão é comercial.
Em 2012, o tatu-bola foi anunciado, por Jérôme Valcke, para ser bem mais
do que a mascote da Copa. A ideia era que ele fosse um legado, um símbolo, da
luta pela preservação de uma das espécies, de nossa fauna, ameaçadas de
extinção. Valcke anunciou que a FIFA destinaria recursos para financiar
projetos voltados para a preservação da natureza. O discurso era politica e
ecologicamente acima de qualquer suspeita, mas na prática ele era tão vazio
quanto às promessas dos tais legados sociais. Poucos dias antes da Copa
começar, se soube que a FIFA não destinou um centavo sequer para preservar um
tatu-bola que fosse. Foi por isso que FULECO sumiu das arenas. Por questões
contratuais, a FIFA teria que pagar para usar um símbolo nosso.
Havia sido acordado que a ONG Caatinga, que propôs o tatu-bola como
mascote, teria seus projetos preservacionistas financiados pela FIFA. De última
hora, a FIFA tentou um acordo, ou melhor, tentou dar um “cala-boca” na ONG e no
governo brasileiro. Segundo Rodrigo Castro, da ONG Caatinga, a FIFA fez uma
proposta indecorosa. A entidade, que lucrou US$ 2,4 bilhões nesses 4 anos de
preparação da Copa, ofereceu R$ 300 mil que seriam pagos em 10 anos. Foi por
isso que FULECO sumiu. Assim é a Copa da FIFA. Nos campos, temos um desfile de
emoções. Fora deles, não temos legados dos quais possamos nos orgulhar. Nem a
mascote, que poderíamos guardar de lembrança, quer aparecer. Sem FULECO, sem
legados, teremos mesmo que nos contentar com um bom futebol. É só o que nos
cabe nessa história toda.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A
CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário