Seleção Brasileira - 1982. |
Em 1978 eu tinha
nove de idade quando ocorreu a 11ª Copa do Mundo na Argentina. Pela primeira
vez, uma copa era transmitida via satélite, ao vivo e a cores. Essa foi minha
primeira Copa do Mundo. Justo a Copa mais desonesta que já se teve. Lembro
aquele jogo entre Brasil e
Suécia, ainda na 1ª fase. O jogo estava empatado em 1x1. Já nos acréscimos,
houve um escanteio a favor do Brasil. Nelinho cobrou o escanteio, Zico subiu e
fez o gol de cabeça. Era o gol da vitória do Brasil. O juiz, um tal de Clive
Thomas do Reino Unido, anulou o gol de Zico, sob alegação de que havia apitado
o fim do jogo enquanto a bola viajava dos pés de Nelinho até a cabeça de Zico.
Os brasileiros fizeram de tudo, mas não teve jeito, o jogo terminou empatado.
Essa Copa foi toda manietada pela ditadura militar argentina com a
colaboração da FIFA, claro, que na época era dirigida pelo brasileiro João
Havelange. A ideia era fazer a Argentina campeã para fortalecer o regime
ditatorial. Conseguiram. Em 1982, eu tinha 13 anos e fiquei deslumbrado com
aquela orquestra regida pelo maestro Telê Santana que priorizava o bom futebol,
o toque de bola, o jogo bonito de se ver. Para Telê a vitória seria uma mera
consequência disso tudo. Apesar de que com Valdir Peres, Leandro, Oscar,
Luizinho e Toninho Cerezzo; Junior, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho Chulapa e
Éder não se podia esperar outra coisa a não ser um belo futebol. Mas, a
orquestra perdeu para uma Itália sofrível.
Eu passei uma semana mudo. Não falava com ninguém e de vez em quando me
trancava no banheiro para chorar. Só muito tempo depois é que entendi que
aquela era a verdadeira seleção, ali estavam os verdadeiros craques, meus
ídolos do futebol. Em 1986 eu tinha 17 anos e assisti uma ótima seleção
brasileira, com muitos dos craques de 1982 atuando, mas já em fim de carreira.
Nessa Copa deu tudo errado. O Brasil foi eliminado pela França num jogo em que
ninguém mais do que Zico perdeu um pênalti. A Copa do mundo de 1990 aconteceu
na Itália. Com 21 anos eu já entendi como e porque o futebol podia ser
utilizado por governos e regimes para alimentar a política do pão & circo.
Na verdade, essa foi a pior de todas as Copas que acompanhei.
Tínhamos a mais medíocre das seleções. Ela era comandada por Sebastião
Lazaroni, que entendia de futebol tanto quanto eu entendo do impressionismo
neoclássico. Foi à chamada “era Dunga”, onde qualquer perna-de-pau se tornava
craque. Para completar o Brasil foi desclassificado, ainda nas oitavas de
final, porque ninguém mais do que nossos arquirrivais, os argentinos. Foi
aquele jogo, que deram a água batizada para Branco. Anos depois o troglodita do
Maradona revelou tudo cinicamente. Em 1994, eu tinha 25 anos e estava bem mais
preocupado com o nascimento do meu primeiro filho do que com a Copa do Mundo
realizada nos EUA. Para nós brasileiros, aquela foi a Copa dos paradoxos e de
um tipo de futebol que não gostávamos de ver.
Seleção Brasileira - 1990. |
Nos EUA, fomos tetra campeões com um time que pretendia, e de certa forma
conseguiu, encerrar a era do futebol arte. Parreira implantou a filosofia de
ser campeão a qualquer custo. Ao contrário do mestre Telê, Parreira era um
técnico bem técnico. Ele dizia que não adiantava jogar bonito e não ser
campeão. A toupeira do Dunga foi símbolo disso, também. Certa vez, ele provocou
Zico dizendo: “você jogava bonito e não foi campeão, eu jogava feio e fui
campeão”. Mestre Telê deve ter se revirado com isso. Aquela foi a Copa do
Romário. No meio de tanto jogador medíocre, Romário nos lembrava que, sem o
Brasileiro, o futebol teria se tornado um esporte tão chato e monótono quanto o
golfe ou o tênis.
Mas, não deu para ficar muito feliz com o titulo. É que Ayrton Senna havia
morrido em maio daquele ano. Enquanto Dunga levantava a Taça, em julho, os sentimentos
se misturavam. Sim éramos tetra campeões, mas sem o nosso herói dos domingos.
Em 1998, na Copa da França, eu tinha 29 anos e desconfiava daquele time que era
a depuração do de 1994. Aquele nacionalismo estulto de Zagallo e de Galvão
Bueno me irritavam e me afastavam da seleção. Mas, enfim, chegamos a final
daquela Copa. Todos lembram a tragédia do “Stade de France”, quando Zinédine
Zidane jogou tudo que sabia e levamos aquele chocolate de 3X0 da França. Foi
um pavor. Ronaldo, num dia nada fenomenal, deu aquele piripaque, nunca
explicado, e fomos vice-campeões.
Em 2002, eu tinha 33 anos e não mais me iludia com os craques promissores
que do nada surgiam. A primeira Copa na Ásia foi um primor de organização e a
1ª edição da família Felipão foi penta campeã do mundo com Ronaldo sendo
fenomenal. Nas copas de 2006 (na Alemanha) e de 2010 (na África) tivemos
seleções abaixo da média do padrão nacional de exigência que implantamos
historicamente. Não tínhamos jogadores de futebol, tínhamos estrelas, celebridades,
preocupadas com suas imagens. Hoje, vamos começar mais uma Copa do Mundo. Ela é
especial, pois acontece no Brasil apesar da FIFA e do próprio Brasil. Hoje, vou
assistir ao jogo do Brasil e até me permitirei torcer pela nossa Seleção. Na
verdade, minha torcida é para que daqui a quatro anos eu possa morder a língua
e retirar boa parte das criticas que andei fazendo.
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sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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