sexta-feira, 13 de junho de 2014

A COPA VAI COMEÇAR E EU QUERIA ESTAR ERRADO

Seleção Brasileira - 1982.

Em 1978 eu tinha nove de idade quando ocorreu a 11ª Copa do Mundo na Argentina. Pela primeira vez, uma copa era transmitida via satélite, ao vivo e a cores. Essa foi minha primeira Copa do Mundo. Justo a Copa mais desonesta que já se teve. Lembro aquele jogo entre Brasil e Suécia, ainda na 1ª fase. O jogo estava empatado em 1x1. Já nos acréscimos, houve um escanteio a favor do Brasil. Nelinho cobrou o escanteio, Zico subiu e fez o gol de cabeça. Era o gol da vitória do Brasil. O juiz, um tal de Clive Thomas do Reino Unido, anulou o gol de Zico, sob alegação de que havia apitado o fim do jogo enquanto a bola viajava dos pés de Nelinho até a cabeça de Zico. Os brasileiros fizeram de tudo, mas não teve jeito, o jogo terminou empatado.

Essa Copa foi toda manietada pela ditadura militar argentina com a colaboração da FIFA, claro, que na época era dirigida pelo brasileiro João Havelange. A ideia era fazer a Argentina campeã para fortalecer o regime ditatorial. Conseguiram. Em 1982, eu tinha 13 anos e fiquei deslumbrado com aquela orquestra regida pelo maestro Telê Santana que priorizava o bom futebol, o toque de bola, o jogo bonito de se ver. Para Telê a vitória seria uma mera consequência disso tudo. Apesar de que com Valdir Peres, Leandro, Oscar, Luizinho e Toninho Cerezzo; Junior, Falcão, Sócrates e Zico; Serginho Chulapa e Éder não se podia esperar outra coisa a não ser um belo futebol. Mas, a orquestra perdeu para uma Itália sofrível.

Eu passei uma semana mudo. Não falava com ninguém e de vez em quando me trancava no banheiro para chorar. Só muito tempo depois é que entendi que aquela era a verdadeira seleção, ali estavam os verdadeiros craques, meus ídolos do futebol. Em 1986 eu tinha 17 anos e assisti uma ótima seleção brasileira, com muitos dos craques de 1982 atuando, mas já em fim de carreira. Nessa Copa deu tudo errado. O Brasil foi eliminado pela França num jogo em que ninguém mais do que Zico perdeu um pênalti. A Copa do mundo de 1990 aconteceu na Itália. Com 21 anos eu já entendi como e porque o futebol podia ser utilizado por governos e regimes para alimentar a política do pão & circo. Na verdade, essa foi a pior de todas as Copas que acompanhei.

Tínhamos a mais medíocre das seleções. Ela era comandada por Sebastião Lazaroni, que entendia de futebol tanto quanto eu entendo do impressionismo neoclássico. Foi à chamada “era Dunga”, onde qualquer perna-de-pau se tornava craque. Para completar o Brasil foi desclassificado, ainda nas oitavas de final, porque ninguém mais do que nossos arquirrivais, os argentinos. Foi aquele jogo, que deram a água batizada para Branco. Anos depois o troglodita do Maradona revelou tudo cinicamente. Em 1994, eu tinha 25 anos e estava bem mais preocupado com o nascimento do meu primeiro filho do que com a Copa do Mundo realizada nos EUA. Para nós brasileiros, aquela foi a Copa dos paradoxos e de um tipo de futebol que não gostávamos de ver.

Seleção Brasileira - 1990.

Nos EUA, fomos tetra campeões com um time que pretendia, e de certa forma conseguiu, encerrar a era do futebol arte. Parreira implantou a filosofia de ser campeão a qualquer custo. Ao contrário do mestre Telê, Parreira era um técnico bem técnico. Ele dizia que não adiantava jogar bonito e não ser campeão. A toupeira do Dunga foi símbolo disso, também. Certa vez, ele provocou Zico dizendo: “você jogava bonito e não foi campeão, eu jogava feio e fui campeão”. Mestre Telê deve ter se revirado com isso. Aquela foi a Copa do Romário. No meio de tanto jogador medíocre, Romário nos lembrava que, sem o Brasileiro, o futebol teria se tornado um esporte tão chato e monótono quanto o golfe ou o tênis.

Mas, não deu para ficar muito feliz com o titulo. É que Ayrton Senna havia morrido em maio daquele ano. Enquanto Dunga levantava a Taça, em julho, os sentimentos se misturavam. Sim éramos tetra campeões, mas sem o nosso herói dos domingos. Em 1998, na Copa da França, eu tinha 29 anos e desconfiava daquele time que era a depuração do de 1994. Aquele nacionalismo estulto de Zagallo e de Galvão Bueno me irritavam e me afastavam da seleção. Mas, enfim, chegamos a final daquela Copa. Todos lembram a tragédia do “Stade de France”, quando Zinédine Zidane jogou tudo que sabia e levamos aquele chocolate de 3X0 da França. Foi um pavor. Ronaldo, num dia nada fenomenal, deu aquele piripaque, nunca explicado, e fomos vice-campeões.

Em 2002, eu tinha 33 anos e não mais me iludia com os craques promissores que do nada surgiam. A primeira Copa na Ásia foi um primor de organização e a 1ª edição da família Felipão foi penta campeã do mundo com Ronaldo sendo fenomenal. Nas copas de 2006 (na Alemanha) e de 2010 (na África) tivemos seleções abaixo da média do padrão nacional de exigência que implantamos historicamente. Não tínhamos jogadores de futebol, tínhamos estrelas, celebridades, preocupadas com suas imagens. Hoje, vamos começar mais uma Copa do Mundo. Ela é especial, pois acontece no Brasil apesar da FIFA e do próprio Brasil. Hoje, vou assistir ao jogo do Brasil e até me permitirei torcer pela nossa Seleção. Na verdade, minha torcida é para que daqui a quatro anos eu possa morder a língua e retirar boa parte das criticas que andei fazendo.

Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com

AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

Nenhum comentário: