Em um episódio de “A vida como ela é”, o escritor Nelson Rodrigues
afirmou que “só o verdadeiro inimigo
nunca trai”. Já o filósofo italiano Nicolau Maquiavel aconselhava que, na
política, deve se cuidar do aliado tanto quanto se cuida do adversário. Hoje, a
política paraibana gira em torno de alianças, traições e relações entre aliados
e adversários. Aliás, a evolução dos fatos nos mostra que a diferença entre ser
partidário e ser rival é a mesma que existe entre o encarnado e o vermelho,
i.e., nenhuma. Acompanhando os fatos eu diria que é melhor ter um ou dois
adversário na mão do que vários aliados voando. Na pequena e heroica Paraíba, o
aliado de hoje poderá, deverá, ser o adversário de amanhã, sendo a recíproca
absolutamente verdadeira.
Contando com hoje, 26 de junho, e com boa parte do próximo dia 30,
ficam faltando cerca de 110 horas para que atores e partidos políticos definam
suas coligações, visando às eleições majoritárias e proporcionais de outubro.
Até o próximo dia 30, todo minuto será útil. PSB, PSDB e PMDB, os três grandes
partidos envolvidos no processo, ainda não definiram claramente seus candidatos
a governador, vice-governador, senador, além dos deputados estaduais e
federais. Vamos por partes. Primeiros às raras certezas. Ricardo Coutinho e
Cássio Cunha Lima são candidatos ao governo do Estado, mesmo que tenhamos que
considerar se o senador Cássio é ou não elegível. Mas, deixemos essa questão um
pouco mais para adiante.
Os partidos ainda dispõem, como se estivessem em um leilão, de
vagas para as eleições majoritárias e proporcionais. A questão é quem vai dar o
maior lance. Aliás, as vagas para deputado federal devem servir de prêmio de
consolação para muitos. Vejam o caso do vice-governador Rômulo Gouveia que
muito lutou para ser candidato ao senado, mas que deve terminar desistindo para
que o PSB, de Ricardo Coutinho, possa ampliar seu arco de alianças com outros
partidos. Rômulo sairá desgastado desse processo, pois deixou o grupo liderado
por Cássio, ao qual sempre pertenceu, e hoje já é tratado como traidor. Rômulo
ficou do lado de Ricardo, após o fim da aliança entre PSDB e PSB, e esperava
reciprocidade.
Ele queria que Ricardo agisse como aliado, mas neste caso, como em
tantos outros, o governado mais parece um adversário. Para aumentar as
dimensões de seu palanque, tem tratado aliados como adversários e rivais como
se fossem velhos amigos. Aliás, não só ele. Na Paraíba, os políticos podem vir
a ser amáveis aliados ou fervorosos adversários dependendo do que se ofereça,
que o digam Wilson Santiago, José Maranhão, Aguinaldo Ribeiro, Wellington
Roberto, Leonardo Gadelha, etc, etc, etc. O fato é que o PSB precisou dispor as
vagas para senador e vice-governador para atrair o PMDB. Rômulo, então, sobrou
na curva. Deverá ter que se contentar com uma postulação à Câmara Federal ou,
pior, refazer o caminho de volta ao grupo cassista.
No PSDB não é diferente. Cícero Lucena viu seu partido se despir da
fantasia de aliado. Para atrair um partido de peso, como PTB, PSC, PP ou mesmo
PMDB, Cássio e seu grupo passaram a tratar Cícero como adversário. Aliás, Cícero foi o primeiro a sobrar na
curva. Se ele conseguir se candidatar a deputado federal deve se dar por
bastante satisfeito. O mais interessante desse processo é mesmo o papel do PMDB
e de seu, ainda, pré-candidato a governador Veneziano Vital. Todos os
movimentos políticos do momento passam pela mãe de todas as decisões que é se o
PMDB terá ou não candidatura própria ao governo do Estado. PSB e PSDB trabalham
incansavelmente para atrair o PMDB para suas composições.
Ao PMDB tem se oferecido de tudo. Tanto Ricardo como Cássio aceitam
que o PMDB indique nomes para o senado e/ou para vice-governadoria. Aqui não
importa apenas ter o PMDB, trata-se de impedir que o PMDB vá para o lado do
real adversário. Neste caso alguém está blefando, pois lideranças do PSDB e do
PSB apontam para a possibilidade de composição com o PMDB. Sempre lembrando que
quem se aliar ao PMDB leva o PT. É uma promoção: pague por um e leve dois. Mas, para que isso tudo aconteça é preciso
combinar com os russos que neste momento atendem pelo nome de família Vital do
Rêgo. A batalha neste momento é fazer Veneziano desistir de sua postulação ao
governo.
A pré-candidatura de Veneziano sofre ataques especulativos de todos
os lados, inclusive de setores do próprio PMDB. Neste sentido, o PT tem feito
esforços sobre humanos, pois quer continuar junto com o PMDB, mas sem a
candidatura de Veneziano. Neste jogo interessa ver como os atores políticos
estam dispostos a tudo, tudo mesmo, para viabilizarem a melhor composição
possível. Neste jogo unir ou afastar, aliar ou trair, são as faces de uma mesma
moeda. A ética a ser seguida é a da traição e/ou da união sem que existam
claras definições dos significados desses conceitos. Os políticos paraibanos
fizeram uma mudança no dicionário e tratam união e traição como se fossem
sinônimos. Aqui, ter um aliado significa quase nada até que se bata o martelo
no final do dia 30 de junho.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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