quinta-feira, 5 de junho de 2014

OS MISTÉRIOS DE UMA ELEIÇÃO.


Em se tratando de eleições majoritárias e proporcionais, onde se luta pela hegemonia nos poderes executivo e legislativo, nada pode ser simples. Tudo é muito delicado, ainda mais quando temos uma eleição com tantos dilemas e variáveis a se resolverem. Se eu não estivesse acostumado com as coisas da política partidária eleitoral, da pequena e heroica Paraíba, diria que nossos políticos desaprenderam a fazer politica. Às vezes, eles agem como se estivessem perdidos, como se não soubessem o que fazer. Mas, isso é só impressão. Na política de nossos dias tudo, ou quase tudo, pode e deve ser explicado. Afinal, é em função disso que se orienta a atividade do analista político. A ele cabe clarear aquilo que está nebuloso ou explicar o que não se consegue entender.

Agora mesmo vemos um fenômeno que parece contrariar uma das regras informais dos processos eleitorais, que os políticos dizem seguir a risca. Eu falo do fato de que José Maranhão e Cícero Lucena lideram as pesquisas para a eleição ao Senado Federal. Lideram, mas não devem ser candidatos. Como assim? Eu explico, pois todo fenômeno pode ser observado, portanto, explicado. Antes, é bom lembrar que os políticos gostam de justificar suas candidaturas a partir daquelas pesquisas onde aparecem liderando. Quantas vezes já não vimos àquela história de que “eu não estou impondo minha candidatura, é que o partido encomendou uma pesquisa e eu apareci liderando, então minha postulação é uma vontade do povo e das minhas bases”.

Tem político que é capaz até de dar um “jeitinho” nas pesquisas para que elas lhe favoreçam ao ponto do seu partido se convencer de sua viabilidade eleitoral. A questão é que numa eleição como essa, para o Senado Federal, sobram nomes e faltam vagas. Na pesquisa do Instituto Souza Lopes o ex-governador José Maranhão aparece em primeiro lugar com 23.6% das intenções de voto. O senador Cícero Lucena vem em 2º lugar com 12.5%, o vice-governador Rômulo Gouveia está em 3º com 10.6%. Depois aparecem Wilson Santiago (7.5%), Ruy Carneiro (5.8%) e Aguinaldo Ribeiro (2.9%). Estes seis políticos possuem capital eleitoral e uma estrutura partidária que lhes permite reivindicar uma cadeira na Câmara Alta do Congresso Nacional.


Ainda aparecem os que, sob certas condições de temperatura e pressão, podem até chegar no dia da eleição com alguma chance. São eles Lucélio Cartaxo, Ney Suassuna e Walter Brito. Apesar de que sem apoios certos estes nomes não passam de nomes. Chama atenção o fato de José Maranhão estar bem nas pesquisas, sempre liderando, e não ser candidato ao senado. É ele quem diz o tempo todo que será candidato a Câmara dos Deputados para ajudar seu partido, PMDB, a eleger uma bancada de peso. Ora, se Maranhão lidera as pesquisas para o Senado, porque o PMDB, do alto do seu pragmatismo fisiológico, não o coloca de uma vez para ser candidato? Se as pesquisa não estiverem todas erradas, este páreo seria uma barbada.

A mesma coisa é o caso do Senador Cícero Lucena, que aparece em segundo lugar nas pesquisas, ou seja, com chances reais de continuar por mais oito anos no Senado. Porque seu partido, o PSDB, não o quer como candidato a sua reeleição? O que aconteceu com PMDB e PSDB? Desaprenderam a fazer política ou não sabem mais como ler uma pesquisa eleitoral? Não, não é nada disso. Os partidos continuam montando suas estratégias a partir da leitura dos números. Um partido não contrariaria a regra informal, de que quem lidera as pesquisas deve ser o candidato, apenas por um capricho. O fato é que descartar um campeão de votos, de um processo eleitoral acirrado, se explica exatamente pelo exacerbado pragmatismo.

É claro que José Maranhão e Cícero Lucena querem ser candidatos ao senado. Aliás, nove entre dez políticos sonham com esse cargo pelos seus atrativos. O Senador trabalho muitos menos do que o deputado e, em compensação, ganha mais. Para os partidos a vaga de candidato ao senado, numa coligação, se torna moeda de troca. O caso do PMDB exemplifica a questão. É que como ele indica o candidato ao governo tem que ceder a vaga de senador para seu principal aliado, o PT. Por essa lógica, pouco importa que seja Maranhão o primeiro colocado e pouco importa as manifestações em defesa de seu nome. O que determinar quem se candidata, e a quê, são os cálculos eleitorais em torno do tempo no Guia Eleitoral.

Apesar de que, isso pode terminar se tornando um jogo de soma zero. Pois, ao dar a vaga de candidato a senador para um aliado inexpressivo, o partido corre o risco de ficar, literalmente, sem o mel e sem a cabaça. Sabemos que uma chapa puro-sangue pouco amplia e não atrai apoios. Mas, o que é melhor? Uma coligação com vários partidos de capital eleitoral baixo ou uma chapa com 2 nomes, de um mesmo partido, com encorpados capitais eleitorais? O fato é que todo mundo procura se orientar pelas pesquisas, mas a bússola dos atores e partidos políticos é o pragmatismo que orienta negociações no sentido de se maximizar interesses e minimizar perdas. É essa lógica que nos faz pensar que a política partidária não tem lógica.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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