Eu acompanho as
coisas de nossa cidade por força de meu trabalho e porque nela vivo com as
pessoas que amo. Eu não faço favor algum em me preocupar com nosso estado de
insegurança. Sendo um cidadão essa é minha obrigação. O cidadão tem o direito e
o dever de saber o que se passa em sua volta. Mas, não me parece útil fixar na
memória quantos homicídios já tivemos este ano em Campina Grande se não
pudermos entender as motivações para eles.
Não adianta nos intitularmos “policiólogos”, “politólogos” ou
“cientistas políticos”. Pouco adianta dizermos que somos especialistas em segurança
pública se nos contentamos com os números circunstanciais que pesquisas do
governo federal trazem. Adianta pouco sabermos que nossa polícia ficou em
primeiro lugar, entre as de todo o país, quando o assunto é a resolução de
crimes, se essa mesma instituição coercitiva não consegue prover a segurança do
cidadão. Não basta ser eficiente na resolução do crime.
O que queremos é uma policia que atue na prevenção do crime.
Precisamos que o bandido não entre em nossas casas. Sim, desejamos que ele seja
preso após nos roubar. Mas, a prevenção ainda é a melhor política de segurança
pública que se pode ter. A Secretaria de Segurança de Pernambuco tem bons
resultados com o programa “Pacto pela Vida” porque investe em projetos de
prevenção. Ao invés de esperar que o crime aconteça, a polícia de Pernambuco
age na perspectiva de impedir que ele ocorra.
De muito pouco adianta o discurso enfurecido do Deputado Federal
Major Fábio, ao saber que mais um policial militar foi assassinado por
bandidos. Isso não vai resolver nossos problemas. Pelo contrário, só aumenta à
revolta e a desesperança. Quando crimes brutais acontecem, como o assassinato
do policial militar Janderson Pereira, o que se espera das autoridades e dos
agentes públicos é uma atitude sensata no sentido de se buscar, pelo menos,
descobrir as motivações para o crime.
Aliás, esse é nosso
grande problema. Só nos preocupamos com o crime pelo crime. Não queremos saber
os motivos que concorrem para que ele aconteça. Só nos preocupamos em contar
quantos caixas eletrônicos são, por mês, explodidos. Se realmente se quer
acabar com esse tipo de crime, porque não se investiga quem está lucrando para
que ele ocorra? O roubo aos caixas eletrônicos movimenta o comercio ilegal de
explosivos e gera divisas para outros tipos de crimes.
A maioria dos crimes
possuem motivações pragmáticas e objetivas. Claro, o crime visa, em geral, o
lucro. O roubo de carros e motos serve para abastecer a “indústria” dos
desmanches que por sua vez abastece as oficinas. Se você, caro ouvinte, não se
perturba em saber que uma peça que está sendo colocada em seu carro tem
procedência ilegal, saiba que está contribuindo para que o crime ocorra. A
regra é simples. O carro é roubado e é
repassado para o desmanche. Daí, as peças são atravessadas para oficinas cujos
donos e clientes só pensam em maximizar ganhos e minimizar perdas, mesma que
seja à custa da vida de alguém. Esse nosso jeito Macunaíma de ser ainda vai nos
causar muitos danos.
Você se sente
esperto demais por pagar menos da metade por um produto, mesmo que ele seja
roubado? Se a resposta for sim, saiba que você contribui para o aumento da
violência. O crime é uma empresa que visa o lucro e que age motivado por
demandas. Porque será que o assalto violento a residências é uma das
modalidades de crimes mais cometidos em Campina Grande? A resposta é simples: muita
gente se dispõe a comprar eletrodomésticos e eletroeletrônicos roubados, sem
nota fiscal.
Daí que se preocupar
em resolver o crime quando ele já aconteceu não deixa de ser a política de
enxugar gelo. Certo. Quando os crimes brutais ocorrem, queremos ver seus
autores atrás das grades. Mas, isso impede que novos crimes ocorram? O que
impede que o crime aconteça são políticas públicas de segurança, como as que se
fazem em Pernambuco, interligadas com políticas públicas nas áreas de educação,
saúde, moradia, etc.
E eu não estou
falando dos assistencialismos de toda sorte. Eu não falo de coisas
circunstanciais como mais armas, mais viaturas e mais presídios. Eu não falo de
cada vez mais se usar mais a força. Eu
falo em pegar esta criança que está aí, agora, pedindo esmolas nos sinais da
Avenida Canal e lhe dar cidadania. Eu falo em pararmos de enxugar gelo. Eu falo
em entendermos de uma vez por todas que cercas eletrificadas, grades
fortificadas, ferozes cães e guardas armadas são apenas paliativos cada vez
mais ineficazes. Eu falo mesmo em pararmos de fingir que não temos nada haver
com esse estado de coisas. Está na hora de atentarmos para o calibre do perigo,
de onde ele vem e, principalmente, porque ele vem.
Você tem algo a dizer sobre essa COLUNA ou quer sugerir uma pauta? gilbergues@gmail.com
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário