Existe uma ideia
corrente em nosso meio que defende que o melhor mecanismo para se ter cada vez
mais participação política é a consolidação de um sistema multipartidário. É
que muita gente pensa que o cidadão só participa se estiver filiado a um
partido. Por uma lógica formal, eu diria
matemática, se pensa que quanto mais partidos tivermos, mais pessoas farão
parte do processo decisório. Mas, em países desenvolvidos, a democracia não se
consolida pela quantidade de partidos que possui. É qualidade do sistema
partidário de um país que faz seu sistema representativo ser cada vez mais
democrático. A ideia de que o cidadão
deve se envolver no sistema partidário, para poder influir nas decisões, não
faz parte de nossa cultura política.
Se em nosso sistema
político existissem 4 ou 5 partidos com identidade, talvez pudéssemos valorizar
mais esse sistema multipartidário que temos. Se tivéssemos partidos bem
ajustados social e institucionalmente as coisas poderiam ser diferentes. O que
temos é um amontoado de siglas de vida fácil, desideologizadas, que se criam para
atender interesses de chefes políticos regionais com projeção nacional. Hoje,
temos 32 partidos políticos. Será que precisamos mesmo de tudo isso? Essa
quantidade exorbitante de partidos pouco nos serve. Praticamos um
multipartidarismo de três cabeças. Temos três grandes partidos dominando a cena
política e um sem número de siglas gravitando em torno de PT, PSDB e PMDB.
Somos, hoje, reféns de uma polarização que não se orienta pelo
debate político, governamental ou ideológico. Vivemos um bipartidarismo
envergonhado, acabrunhado, onde PT e PSDB se batem para ver quem, claro, ganha
mais eleições. Essa polarização está sufocando o processo político eleitoral.
Em torno dela gravitam cerca de 20 partidos, todos sem identidade, vivendo em
função dos cargos e favores que recebem dos governos que apoiam.
Há muito que PT e PSDB não mais se batem em torno de ideias e
programas políticos. Estes dois partidos passam os dias trocando acusações
mútuas sobre escândalos de corrupção que seus atores políticos praticam sem
parar. A verdade inquestionável é que PT e PSDB são pouco diferentes. Para o
bem e para o mal eles tanto se parecem que não é incomum nas eleições vermos
pessoas confusas em quem votar por não perceber diferenças acentuadas. Ambos
aceitaram o compromisso com a estabilidade econômica, advinda do Plano Real.
Ambos se atêm a essa agenda moralista que não se retroalimenta. O PSDB atira o
caso do Mensalão na cara dos petistas e estes retrucam com o caso dos trens de
São Paulo.
De escândalo em
escândalo, PT e PSDB vão tentando surrupiar capitais eleitorais de seus
adversários. Não percebem que isso é um jogo de soma zero. Como as acusações de
corrupção são mútuas, então todo mundo é corrupto, são todos iguais. Lula,
Dilma e o PT não querem admitir erros como o fato de praticarem uma política
econômica baseada no consumo e, portanto, inflacionária. FHC e seus liderados
do PSDB não perdem tempo em explorar o mensalão petista. Mas, não deveriam, por
terem um telhado feito de um vidro bem fino. Afinal, o STF deve vir a julgar o
mensalão mineiro em 2014. FHC e Lula vivem às turras para ver quem criou o que;
para ver quem é o criador desse ou daquele programa assistencialista.
Não percebem que ao
fazerem isso se igualam e não se diferenciam. A diferença clara é que Lula
elegeu seu poste, depois de oito anos no poder. Já FHC, que também cumpriu dois
mandatos, viu seus postes serem derrubados três vezes seguidas. Ano que vem
teremos eleições presidências e completaremos 20 anos da polarização estulta
entre PT e PSDB. Foi em 1994, quando Lula e FHC se bateram pela primeira vez,
que eles entenderam que um não viveria sem outro.
Mesmo que Eduardo Campos e Marina Silva estejam se apresentando
como alternativas a essa polarização, Dilma e Aécio devem reforçar a
necessidade de se reeditar o velho embate, é confortável para os dois que assim
seja. Mas, o problema é que eles não conseguem sair do lugar comum da luta
contra a corrupção, da disputa sem freios para ver quem mais acusa quem de ser
corrupto. Aos olhos do mercado, inclusive, PT e PSDB servem aos mesmos
propósitos.
Ancorar
campanhas eleitorais numa espécie de pugilato moral é ruim para a sociedade que
fica sem parâmetros para julgar que tem o melhor projeto. E é ruim, também,
para ambos que, ao final de tudo, se igualam pelos defeitos, não pelas virtudes.
Criminalizar e/ou judicializar a política tem um efeito desvastador sobre a já
frágil democracia brasileira. PT e PSDB fariam grande favor, a sociedade
brasileira, se parassem de praticar esse FLA X FLU sem fim.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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