Faleceu ontem, aos 95 anos de idade, o Prêmio Nobel da Paz Nelson
Mandela. Mas, quem foi Nelson Mandela? Eu poderia dizer muitas coisas para
defini-lo, mas, por enquanto, basta dizer que ele foi um dos maiores líderes
políticos de nossa era. Sim, Mandela foi um líder politico. Mas, ele não foi um
líder político qualquer. Por tudo que fez e passou, Mandela se tornou um
símbolo de luta para os que são perseguidos e oprimidos seja lá por qual
estrutura de poder e/ou governo for. Mandela não foi um homem de todas as
causas, ele não tinha essa pretensão ou arrogância. Mandela foi o homem da
causa da liberdade e da igualdade. Essas coisas que nós ainda não aprendemos
como colocar em prática.
Mandela nasceu em
1918 num vilarejo na África do Sul. Seu pai era o chefe desse vilarejo e foi
por isso que ele pode estudar. Em 1939,
Mandela foi cursar artes na Universidade de Fort Hare. Mas, logo foi expulso
por causa de seu ativismo político. Depois ele se formou em Direito, para se
tornar um advogado militante na causa dos Direitos Humanos. Em 1941, Mandela
conheceu Walter Sisulu, seu amigo pessoal pela vida toda, e seu mentor na luta
contra o “apartheid” – a política de segregação racial implantada pelo governo
sul africano em 1948. Mandela dizia que Sisulu tinha uma mente independente. Assim,
o obrigava a ver todo e qualquer problema por vários ângulos. Mandela nunca foi
unilateral. Eu ouso dizer que ele foi o único líder do século XX a ter um
pensamento verdadeiramente livre de amarras políticas, ideológicas, religiosas
e culturais.
Teve uma época que se tentou
comparar Mandela a lideres como o russo Vladimir Ilitch Lenin, o francês Charles de Gaulle, o chinês Mao
Tsé-Tung, o cubano Fidel Castro, mas Mandela foi maior e melhor do que todos
eles juntos. E sabe por quê? Porque ele não queria o poder para si próprio e
porque, ao contrário desses homens que citei, ele não quis ser um ditador,
mesmo tendo todas as chances possíveis. Mandela foi uma liderança política sem
pasta, sem governo, durante quase toda a vida.
O desapego de Mandela para com as estruturas de poder era tal que
ele foi eleito presidente da África do Sul, em 1994, cumpriu um mandato de
cinco anos, não quis à reeleição e se aposentou. O que ele fez? Criou uma ONG para
lutar contra a AIDS. Em 1942 Mandela participava de reuniões do Congresso
Nacional Africano – grupo multirracial que lutaria contra o “apartheid”. Em 1948
as coisas pioraram. O Partido Nacional subiu ao poder e implantou a política de
apartheid.
Por essa politica, brancos e negros não conviviam nos mesmos
espaços. Não sentavam juntos em restaurantes, ônibus e bancos de praças. O
casamento inter-racial era proibido. E, acreditem, negros e brancos não podiam
se tocar em público. Em 1955 o CNA criou o Congresso do Povo e lançou a Carta
da Liberdade, escrita por Mandela. Em 1958, Mandela presidia a Liga Jovem do
CNA e liderou campanhas contra leis do “apartheid”. Foi preso, junto com 19
colegas, e condenado a trabalhos forçados. Em 1960 ele foi absolvido e entrou para a guerrilha.
Nessa época, era moda usar a violência para se lutar por ideais. Mas, Mandela
via nisso apenas uma forma de luta. Ele era consciente que usar a violência em
busca de ideais só gera poderes autoritários.
Em 1964 Mandela, e mais
sete colegas, foram acusados de sabotagem, traição, subversão e tantas outras
coisas que aos olhos do regime do “apartheid” eram crimes gravíssimos. Eles
foram presos e condenados à prisão perpétua. Mandela foi preso na Ilha de
Robben. Lá ficou em regime fechado por 18 anos, onde não tinha nome e era
conhecido pelo número 46.664. Uma tentativa do regime separatista de acabar com
sua liderança política. Não deu certo.
Em 1982 ele foi transferido
para a prisão Pollsmoor, onde ficou preso por mais nove anos. Enquanto Mandela
vivia encarcerado, crescia sua liderança e o mundo mudava. Mandela soube usar o
silêncio que lhe impuseram como arma política. Deu certo. Em 1990, o CNA foi refundado e se tornou um
partido. Em 11 de fevereiro desse ano, Mandela foi, finalmente, solto. Após 27 anos
de prisão, com 72 anos de idade, ele saiu daquela prisão, de mãos dadas com sua
esposa, com o punho e a cabeça erguidos.
Eu lembro bem
dessas imagens fantásticas. Mandela caminhava, sorrindo, com uma multidão em
sua volta. Mandela estava altivo, orgulhoso. Os que o encarceraram por tanto
tempo sentiam vergonha e se escondiam. Mais tarde, Mandela disse, com a
simplicidade e clareza de sempre, que: “Eu não tinha nenhuma crença, a não ser
que a causa era justa, era muito forte e estava ganhando cada vez mais
apoio". Simples assim. Sem discursos longos, sem pompas, sem
circunstâncias.
Eleito
presidente da África do Sul, Mandela apaziguou os 11 grandes grupos étnicos que
habitam o país. Ofereceram-lhe implantar uma ditadura, ele rejeitou.
Propuseram-lhe quantas reeleições quisesse, ele dispensou. Queria apenas coordenar
a transição do processo político. E o fez tão bem que ganhou o prêmio Nobel da
Paz. Mandela era o homem dos pequenos grandes gestos. O melhor, o mais belo de
todos em minha opinião, foi vê-lo dançando alegremente quando de sua posse como
presidente da África do Sul. VIVA MANDELA!
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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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