A Copa do Mundo,
uma das melhores que já se teve, acabou ontem. Foram 30 dias com jogos
maravilhosos e muitas emoções. Mas, ficou o paradoxo de termos sediado o evento
que fez a Seleção Brasileira sucumbir diante de adversários bem superiores.
Hoje, jaz sob os escombros do futebol brasileiro um modelo que, mesmo tendo
sido vitorioso no passado, é sinônimo de ineficiência, incompetência,
irresponsabilidade. Mas, tudo bem, afinal de contas o futebol é tão somente um
jogo, um esporte. A questão é que a copa das maravilhas terminou. Ficou a Copa
dos horrores. Mesmo que o Brasil tivesse sido campeão, teríamos que enfrentar a
dura realidade de quem deixou todas as suas prioridades sociais de lado para
realizar um sonho, uma fantasia.
Não, não foi ruim que tudo tenha saído mal. Sim, eu torci pela seleção
brasileira, eu não sou daqueles que veste uma camisa da seleção argentina. Mas,
me preocupava que mais um título pudesse esconder toda sorte de problemas e
desmandos que tivemos e temos. O massacre do Mineirão foi um duríssimo golpe, mas
foi necessário, admitamos. Aquele 7 X 1 não vai ser jamais esquecido e tomara
mesmo que não seja. Minha esperança é que saibamos aprender alguma coisa com
todo aquele vexame. Claro, nunca nos iludamos, pois a tese do “apagão de seis
minutos” pode ser sair vitoriosa sobre a discussão de que a goleada foi, tão
somente, a consequência mais funesta de anos e anos de desmandos não só no
futebol, apesar de que nele também.
Perdemos essa copa de forma aviltante. Fomos humilhados, pisoteados, em
nossa própria casa pelos alemães? Não, pois fomos nós mesmos quem provocamos
todo esse estado de coisas. O que nos destrói é esse jeito tão brasileiramente
irresponsável de ser. Luis Felipe Scolari disse estufando o peito, coitado, que
a preparação da seleção para esta Copa durou 18 meses. O cara ouvinte sabe
quanto tempo a Alemanha se preparou o momento de ser tetra campeão do mundo?
Foram longos oito anos de planejamento. Após ficar em 3º lugar, na Copa que
sediou em 2006, a Alemanha lançou um projeto de renovação. O que fizeram os
alemães? Promoveram um jogador de futebol a celebridade, como se fez com
Neymar? Não, planejaram sério e investiram bastante.
Em 10 anos, construíram, pelo país todo, 1.387 campos de futebol com toda
estrutura necessária para a formação de jogadores. A Federação Alemã de Futebol investiu o
equivalente a R$ 75 milhões num programa para crianças e adolescentes no
futebol. Isso incluiu a construção de campos de futebol em escolas com a
distribuição de kits com bolas, uniformes e outros equipamentos. Hoje, na
Alemanha, 34 mil crianças e adolescentes estão sob a tutela de treinadores,
formados pela federação alemã. Agora, entendemos porque a Alemanha foi tão bem
na Copa do Mundo. O caro ouvinte sabe quantos campos de futebol a CBF construiu
nos últimos quatro anos? Foram exatamente três. Quer saber onde? Na Granja
Comary, para a Seleção Brasileira treinar.
A FIFA lançou um programa para construir campos de futebol no Brasil como
contrapartida por termos cedido o país para a Copa. O governo investiu R$ 100
milhões em centros de treinamento para as seleções. Alguns, inclusive, nem
usados foram. A CBF não gastou um único centavo neste item. Questionado porque
não investir nesses programas, o presidente da CBF, José Mª Marin, disse que “seria uma boa ideia e que iria pensar
nisso”. Entendeu porque fomos goleados na Copa? Mas, não temos do que
reclamar. Enquanto os alemães treinavam, no campo de futebol que eles mesmos
mandaram construir em Santa Cruz de Cabrália, na Bahia, os brasileiros faziam
roda de pagode e participavam de palestras motivacionais.
Mas, eu ainda vejo vantagens no furacão que varreu a seleção do mapa do
futebol. Uma delas pode ser o fim daquela baboseira de “família Scolari”, com
aqueles jogadores entrando em campo, em fila indiana, de cabeça baixa, como se
fossem presidiários. Eu espero que tudo isso sirva para acabar com esse
nacionalismo debiloide, capitaneado por Galvão Bueno. Eu espero que as pessoas
entendam que ficar nos estádios cantando “eu sou brasileiro, com muito orgulho,
com muito amor” não serve para ganhar jogo. Eu torço mesmo para que o papelão,
da Seleção nesta Copa, faça com que as pessoas entendam que não somos mais
imbatíveis no futebol, se é que já fomos. Tomara que sirva para que a seleção
deixe de ser uma fonte inesgotável de lucros para alguns.
Mas, fundamentalmente, torço para que a humilhação que passamos sirva para
entendermos que temos que deixar de ser irresponsáveis para com o nosso futuro.
Afinal, quando é que vamos aprender a planejar alguma coisa, seja lá o que for.
Lembram quando o secretario geral da FIFA, Jérôme Valcke, disse que: “As coisas não estão funcionando. Muitas
coisas estão atrasadas. O Brasil merece um chute no traseiro”. Pois é,
merecíamos e a Alemanha fez isso. Deu-nos um belo chute no traseiro. Alias, um
não, foram sete. Certo, levamos uma bela de uma surra. O que faremos agora?
Fingiremos que nada aconteceu ou nos avaliaremos por completo para, quem sabe,
um dia sermos um povo diferente.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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