Ao contrário do
que muitos acham, o discurso de um candidato é fundamental como parâmetro para
que o eleitor decida em quem votar. Eu sei que muitos acham que o discurso dos
políticos não vale nada, pois eles prometem de mais e cumprem de menos. Mas, o
discurso é uma arma. Através dele, o político demonstra sua capacidade de
argumentação. Pelo discurso, nas entrevistas, por exemplo, podemos perceber se
o candidato é ou não capaz de assumir o cargo que está pleiteando nas urnas. As
entrevistas que a Equipe de Jornalismo da Campina FM tem promovido com os
candidatos a governador e a vice-governador da Paraíba estam bem longe de serem
monótonas, imprecisas ou sem algum valor. Pelo contrário, elas têm sido reveladoras.
Em Vila do Sossego, Zé Ramalho já dizia que: “Na tortura toda carne se trai. Que normalmente, comumente, fatalmente,
felizmente, displicentemente o nervo se contrai, com precisão”. É claro que
nós não vamos torturar os candidatos. Mas, nos é imperativo fazê-los falar.
Importa que eles tenham tempo para exporem quem são, como são e porque são.
Quando o nervo do candidato se contrai, ele pode, por exemplo, revelar suas
fragilidades, suas indecisões e seus desconhecimentos. Nas entrevistas com os
candidatos a vice, vimos fragilidades de toda sorte e é por isso que elas foram
tão boas. Eu sei que não temos esse hábito, mas me parece que já é hora de
prestarmos atenção ao vice tanto quanto prestamos ao candidato a governador.
Lena Leite do PSTU seria a primeira a conceder uma dessas entrevistas, mas
ela não veio alegando estar doente. Roberto Paulino, do PMDB, foi de fato o
primeiro entrevistado. É bom não esquecer que até dá para fugir de algumas
dessas atividades. É que estamos no começo das eleições, mas com o passar dos
meses, e com o guia eleitoral, a curiosidade do eleitor vai aumentando. Fugir
do debate não pode mesmo ser a melhor estratégia. O eleitor não pode ser
privado de conhecer os candidatos. Roberto Paulino iniciou sua entrevista
dizendo que não estava nos seus planos se candidatar a um cargo majoritário e
que sua prioridade era trabalhar para reeleger seu filho, Raniery Paulino,
deputado estadual.
O seu objetivo era ajudar o PMDB a eleger seus candidatos ao governo e aos
cargos no parlamento. Se era assim, o que fez Roberto Paulino mudar de opinião?
Ele disse que os problemas e dificuldades enfrentados pelo PMDB o fizeram mudar
de rumo. Paulino disse que esses tais problemas e dificuldades eram de
conhecimento dos paraibanos. Mas, o ex-governador se confundiu, pois seguimos
sem saber o que de fato aconteceu que forçou o PMDB a ter uma candidatura
própria. Pelo visto vamos continuar sem saber, pois o comportamento pouco
republicano dos atores e partidos políticos da Paraíba, naquele fático final de
semana das convenções partidárias, não deve mesmo vir à tona pelo bem de nossas
frágeis instituições.
Para Paulino nada mais importa do que fortalecer a agremiação da qual é
filiado desde 1970. Certo, não deixa de ser um comportamento político coerente.
Mas, deveria o fortalecimento de uma sigla ser colocado acima dos interesses de
Estado? Paulino chegou mesmo a confessar que o processo de definição de
candidaturas e de coligações foi tumultuado. Disse ele: “foi um momento de
muita confusão, agente acertava uma coisa e dizia é assim, mas depois não era
mais assim, já era de outro jeito”. O ex-governador até se permitiu um
desabafo, com tons de vitimização, e disse que houve uma pressão muito grande,
com todo mundo querendo destruir o PMDB. Mas, porque haveria uma conspiração
para destruir o PMDB? Isso ele não respondeu.
Ele disse que não falaria do que houve nos meandros, entre quatro paredes,
no processo de articulação, pois isso não seria o seu estilo. Cada vez que os
políticos paraibanos se negam a dizer o que houve só aguçam ainda mais nossa
natural curiosidade. Como todo político experiente, Paulino resolver deixar
esse assunto de lado, minimizando os acontecimentos, e dizendo que “nós estamos no caminho e vamos fazer com
que Vital Filho possa engrenar em sua campanha”. Habilidosamente, Paulino
mudou de assunto, falando da visita do vice-presidente da república, Michel
Temer, a Paraíba. Em seguida, Paulino falou do seu reduto eleitoral, a cidade
de Guarabira, de sua pujança e de uma tal rebeldia que ela teria.
Os políticos são mesmo assim, eles vão tentando responder as perguntas ao
mesmo tempo em que não descuidam de seus pequenos interesses políticos,
partidários, familiares, municipais. Isso faz, também, parte desse jogo chamado
eleição. Paulino disse que vai haver em Guarabira o arrastão do vermelhão e
que, lá, o vermelho é um grife. Ele anunciou esse tal arrastão para o próximo
dia do país. Vejam como os grupos políticos se apoderam de cores e datas para
viabilizarem interesses eleitorais. Para Paulino parece importar bem mais ter
um bom desempenho eleitoral em seu reduto, do que viabilizar os interesses de
seu partido que ele disse estar sendo perseguido. Assim são os políticos em
tempos eleitorais. Amanhã eu vou continuar analisando as entrevistas dos
candidatos a vice-governador da Paraíba.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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