Nelson Rodrigues
foi escritor, jornalista, dramaturgo e comentarista de futebol. A especialidade
dele era mesmo a palavra escrita. Nelson ia religiosamente ao Maracanã, sempre
aos domingos, de terno e gravata carregando seu inconfundível guarda-chuva. Era
assistindo aos jogos de futebol que ele criava o seu “personagem da semana”,
para uma crônica que mantinha na revista “Manchete Esportiva”, entre 1955 e
1959. A partir de 1962, Nelson passou a assinar uma coluna diária no Jornal O
Globo. Até junho de 1970, Nelson contou em suas crônicas as mais deliciosas
histórias sobre o futebol brasileiro. Mas, ele não falava tanto das partidas de
futebol em si. Em geral, ele falava daquilo que via no entorno dos jogos que
assistia.
Não raras vezes, o personagem da semana era alguém que Nelson via no
estádio. Foi ele quem batizou o torcedor da arquibancada geral de
“geraldino”. Foi Nelson que criou o
personagem “Sobrenatural de Almeida”, para falar das coisas imprevisíveis do
futebol. As crônicas de Nelson traziam expressões que ele criava para ilustrar
situações. Certa vez ele disse, se referindo a um empate sem gols entre Brasil
e Paraguai, que “a virgindade desagradável e irredutível do escore era uma
humilhação para o público”. Nelson foi um romancista do futebol com tiradas do
tipo: “quando Pelé apanha a bola, e dribla um adversário, é como quem escorraça
um plebeu ignaro e piolhento”. Nelson foi um cientista político do futebol por
entender tão bem suas relações de poder.
Ele dizia que ninguém deve se sentir culpado por gostar do futebol, pois
"dentre as coisas menos importantes da vida, ele é a mais
importante". É por isso que, hoje, volto a falar do futebol, pois ele tem
a capacidade de explicar como somos e porque somos. Agora que a Copa do Mundo
acabou, agora que temos que nos conformar que o sonho e a fantasia vendidos
pela FIFA terminaram, precisamos os voltar a nossa realidade. A vexatória
campanha da Seleção Brasileira na Copa criou expectativas de mudança. Após o
massacre do Mineirão, setores da sociedade brasileira, inclusive o governo
federal, passaram a pedir mudanças radicais na estrutura do futebol brasileiro.
A CBF logo respondeu demitindo o técnico Luiz Felipe Scolari.
No Brasil, falar em mudanças no futebol é como falar em reformas na
política. Os dirigentes do futebol, assim como nossos representantes, não
gostam de transformação, renovação, revolução. Eles preferem preservação,
manutenção, conservação. Vejam que a CBF anunciou a contratação do ex-goleiro
do Flamengo, Gilmar Rinaldi, para ser o coordenador de seleções da entidade.
Gilmar é empresário de jogadores de futebol. Ou seja, colocaram, literalmente,
a raposa para tomar conta das galinhas. Este filme, nós já assistimos. O
sujeito ganha a vida empresariando jogadores e vai ocupar um cargo na CBF. Daí,
ele vai colocando seus contratantes, nas listas de convocação da Seleção
Brasileira, para valorizá-los na hora de vendê-los para a Europa.
Desse jeito vamos mal, muito mal. Mas, não é só isso. Mal havia acabado o
massacre do Mineirão, e os dirigentes nacionais e regionais do futebol
começaram a pedir a demissão de Luiz Felipe Scolari e uma “renovação
generalizada na seleção”. Mas, quem será essa gente que clama por renovação? Os
arautos da mudança, que falam em novos ares, são justamente os dirigentes que
se cristalizaram na estrutura do futebol, tanto na CBF, como nas federações
estaduais. Os que hoje querem mudanças, são os mesmos que estão no poder a até
40 anos. Os que são diretamente responsáveis pelo caos estabelecido no futebol,
agora falam que é preciso renovar. Vejamos o caso de Delfim Pádua Peixoto
Filho.
Ele é presidente da Federação Catarinense de Futebol há 29 anos. No dia
seguinte ao vexame da goleada de 7 X 1, ele foi à imprensa afirmar que Felipão
"está obsoleto". Depois deles, vieram vários outros presidentes com
discursos parecidos. Se Felipão está obsoleto o que dirá José Gama, que preside
a federação de Roraima desde 1974. E que tal Carlos Orione, da federação do
Mato Grosso, desde 1976? José Carivaldo preside a federação de Sergipe, desde
1990, e está em seu sétimo mandato. E não esqueçamos Rosilene Gomes que preside
a Federação Paraibana de Futebol desde 1989. Inclusive, ela está afastada do
cargo por "fortes indícios de irregularidades". O Ministério Público
até pediu a prisão dela devido às claras evidências.
O fato é que existe uma estrutura de poder que paira acima e além do
futebol. Os 27 presidentes das federações, mais os 20 presidentes dos clubes da
Série A do Campeonato Brasileiro, formam o colégio eleitoral que elege o
presidente da CBF. A direção da própria CBF está nas mãos do mesmo grupo desde
os tempos de João Havelange, passando por Ricardo Teixeira, o Paulo Maluf do
futebol, e chegando ao José Maria Marin, aquele mesmo que não pode ver uma
medalha de ouro. Essa gente transformou o futebol num grande butim, uma espécie
de negócio familiar. Ver esses senhores, de mentes carcomidas, falando em
mudanças soa tão falso quanto o esquema tático do técnico Felipão que vimos
naufragar na tragédia do Mineirão.
AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A
CAMPINA FM.
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