quinta-feira, 10 de julho de 2014

NÃO EXISTEM MOCINHOS NO FAROESTE ELEITORAL




O caro ouvinte sabe o que significa a união de dois ou mais partidos, que apresentam conjuntamente uma ou mais candidaturas para uma determinada eleição, seja majoritária, seja proporcional? Certo! Acertou quem disse COLIGAÇÃO. Na eleição majoritária, onde se elegem os governantes, é pela coligação que se define o tempo da propaganda gratuita no rádio e na TV. A referência utilizada é o tamanho das bancadas que cada partido, que compõe a coligação, possui na Câmara dos Deputados. A regra é simples. Quanto mais deputados uma coligação tiver, maior seu tempo no guia eleitoral. Já nas eleições proporcionais, onde se elegem os parlamentares, as coligações definem o tempo do horário eleitoral, além de quem será eleito.


É que as vagas eletivas são distribuídas proporcionalmente aos votos obtidos pelos partidos ou coligações. Dito de outra forma, quanto mais votos um partido ou uma coligação tiver mais candidatos poderá eleger. Esse sistema faz com que um candidato, com muitos votos, ajude a eleger candidatos de sua coligação que tiveram poucos votos. É como se o puxador de votos repasse para outros candidatos os sufrágios que não precisou para se eleger. A formatação de nosso sistema eleitoral impõe a composição de mega coligações. Como a regra da quantidade se impõe sobre a da qualidade, os candidatos lutam desesperadamente para atraírem a maior quantidade de partidos para suas coligações.


Essa perversão política fez com que o recente processo de composição das coligações tenha se tornado um faroeste onde não existem mocinhos, apenas vilões. Foi isso que o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paz, chamou de bacanal eleitoral. O jornalista Ricardo Setti, colunista da Revista Veja, disse que, no Rio de Janeiro, está acontecendo uma “suruba eleitoral”. Ele se referiu ao fato do PMDB, de Sergio Cabral, ter montado uma coligação com adversários e aliados da presidente Dilma e do PT. Mas, esse faroeste sem mocinhos, essa orgia que os partidos organizaram em praça pública, não é uma exceção do Rio de Janeiro ou da Paraíba. Na verdade, o que aconteceu aqui, e na terra dos cariocas, é a regra que se aplica a todo país.


Num sistema democrático se repetiria, nos Estados, o que se compôs nacionalmente. Mas, como ainda vivemos no tempo da política dos governadores, do início do século XX, se montam coligações paroquiais para atender aos interesses dos grupos politico-familiares. Assim, sugiro ao caro ouvinte que esqueça de uma vez por todas esse negócio, por certo ultrapassado, chamado coerência política. E vejam que eu nem estou falando numa tal ética da responsabilidade, pois isso é coisa de tempos imemoriais. Vejamos como os partidos montam suas promiscuas composições. Aécio Neves, do PSDB, registrou no TSE a super “Coligação Muda Brasil” que é composta por nove partidos, dentre eles temos DEM, PMN, PTB, PEN e PTN.


Dilma Rousseff registrou a “Coligação com a Força do Povo” que, também, é formada por nove partidos. Além de PT e PMDB, esse conglomerado partidário é formado, dentre outros, por PSD, PP, PC do B, PROS e PDT. Eduardo Campos, do PSB, formou a “Coligação Unidos pelo Brasil” com PPS, PPL, PSL, PRP e PHS. As outras oito candidaturas não formaram coligações. São as postulações de um partido só que serão tragadas pelas grandes coligações quando do 2º turno. Com as coligações nacionais, os partidos se sentem livres para agir nos Estados, onde aliados de Dilma, Aécio e Eduardo se desgrudam e se reagrupam. Quem é aliado em nível presidencial pode se tornar, ou não, adversário estadual, sendo a reciproca uma regra a se seguir.


No Rio de Janeiro, o PT lançou a candidatura de Lindberg Farias ao governo do Estado, mas o PMDB, seu aliado nacional, lançou a candidatura de Luiz Fernando Pezão num condomínio partidário que abriga nada mais nada menos do que dezessete siglas, umas aliadas e outras adversárias de Dilma. Em São Paulo, o PSDB lançou seu candidato de sempre, Geraldo Alckmin. Interessa ver que ele conta em sua coligação com o PRB, aliado do PT de Dilma desde o governo de Lula. Alckmin ainda conta com quatro partidos aliados de Eduardo Campos. O caso de Pernambuco é sintomático. O PTB, aliado de Aécio Neves, lançou a candidatura de Armando Monteiro, que trouxe para sua coligação o próprio PT, além do PRB e do PDT. O PSB lançou Paulo Câmara e conta com seis partidos aliados de Dilma.


No Estado do próprio Lula, os partidos aliados do PT, inclusive o próprio PT, se aliaram aos adversários de Dilma Rousseff. O PT sobe no mesmo palanque de seus adversários no Estado onde deveria dar as cartas. Claro, não vamos deixar de olhar para nosso umbigo. Na Paraíba, os partidos preferem se aliar aos adversários. O PSB, de Eduardo Campos e Ricardo Coutinho, se juntou ao PT de Dilma, que deveria estar com o PMDB, que por sua vez não está com ninguém, mas quer a companhia do PT. Certo. O caro ouvinte tem razão. Este negócio parece confuso. Sim, está desordenado. Mas, a lógica dos partidos é para que seja assim mesmo, pois quanto mais obscuro estiver para o eleitor, mais claro ficará para os políticos.
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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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