Que a política
partidária eleitoral não vive sem o futebol, nós já sabemos. O futebol é que
poderia viver bem sem ingerências políticas. A crise sem precedentes que vemos
no futebol brasileiro está irremediavelmente relacionada aos seus dirigentes. Ou,
dito de outra forma, o futebol brasileiro subsiste apesar dos governos e dos
cartolas. Não deixa de ser sintomático que, em meio a um futebol tão
desgraçadamente desorganizado, esteja acontecendo uma Copa do Mundo das
melhores que já tivemos. Independente disso, governantes seguem se servindo do
futebol para maximizarem seus interesses e isso não só no Brasil. A presidente
do Chile, Michelle Bachelet, chegou a atrasar uma viagem, que faria aos EUA, só
para receber a Seleção Chilena de Futebol.
E vejam que o Chile foi desclassificado nas oitavas de final
naquele jogo em que tivemos que ir até os pênaltis para ganhar a vaga nas quartas
de final. A presidente recebeu os jogadores como verdadeiros heróis e posou
sorridente para vários "selfies". O presidente Barack Obama, que deve
entender tanto de futebol como eu entendo das órbitas estáveis dos elétrons, foi
visto assistindo a um dos jogos da Seleção dos EUA. Inclusive, ele ligou para o
hotel onde os jogadores americanos estavam aqui no Brasil. Circula por aí um
vídeo em que Obama conversa com o goleiro Howard e o meia Dempsey. É a velha
história de posar ao lado dos heróis como forma de ganhar dividendos políticos.
Eu lembrei de histórias futebolísticas da ditadura militar.
Conta-se que na Copa do Mundo de 1970, no México, quando o Brasil
foi Tricampeão, o general-presidente Emílio Garrastazu Médici ligava, após cada
um dos jogos, para a concentração da seleção e fazia questão de falar com
vários jogadores. Inclusive, numa dessas ligações, o ditador-presidente quis
falar com o ponta-esquerda Paulo Cézar Caju que teria se recusado ir ao
telefone. Por causa disso, ele quase foi cortado da seleção e andou sofrendo
algumas perseguições após a Copa do México. Agora mesmo temos uma pesquisa do
Datafolha mostrando as influências do futebol sobre a política, sendo a
recíproca, infelizmente, verdadeira. O Datafolha quis saber se e como a Copa do
Mundo esta mexendo com o humor do brasileiro.
O cara ouvinte não se surpreenda, mas o fato é que a Copa do Mundo
melhorou o humor dos brasileiros. Ela influenciou positivamente na avaliação do
governo Dilma. Tem mais, todos os candidatos a presidente estam pontuando mais
nas pesquisas. Claro, isso não quer dizer que a eleição está prematuramente
decidida, pois a Copa acaba daqui a 10 dias e a eleição se arrastará por longos
4 meses. Mas, notem o quanto somos volúveis quando o assunto é futebol e,
principalmente, política. No início de Junho, 61% dos brasileiros diziam que a
Copa prejudica País, pois retirava recursos que poderiam ser usados em serviços
públicos. Há cerca de um mês e ½ atrás, 67% dos brasileiros estavam bastante
irritados com a Copa do Mundo no Brasil.
Agora, de acordo com o Datafolha, temos que 63% dos eleitores são favoráveis
à Copa do Mundo no Brasil. Outro dado interessante é que 60% dos brasileiros
estam orgulhosos pelo fato do Mundial estar ocorrendo no Brasil. Mas, porque
isso? Se a desorganização segue em alta, se os problemas externos as Arenas só
se avolumam, se não vamos mesmo ter legados sociais e se, para completar, os
escândalos relacionados aos recursos da Copa só aumentam, de que tanto nos
orgulhamos, afinal? É que estamos tendo maravilhosos jogos de futebol na Copa.
São partidas com bastante emoção, com muitos gols, e estamos vendo jogadores
excelentes despontando para o futebol mundial. O fato, é que o brasileiro não
pode ver uma bola rolando.
Mas, se é assim, se nos orgulhamos do espetáculo que só o futebol
proporciona, então o que dizer do futebolzinho mixuruca que a Seleção
Brasileira está apresentando? Fosse em outros tempos estaríamos em praça
pública pedindo a cabeça do técnico da seleção. Ao que parece não somos mais lá
tão apaixonados assim pela Seleção. Torcemos, sim, bastante. Até nos
emocionamos, mas não me parece que vamos cair numa profunda depressão, caso o
Brasil não seja hexa campeão do mundo no próximo dia 13/07. O fato é que
enquanto a bola rola, os políticos vão gerando dividendos com a cultura do
futebol. Dilma saiu dos 34%, nas intenções de voto, e foi para 38%. Foi a maior
variação entre os concorrentes. A aprovação do governo variou positivamente,
pois era 33% em maio e agora foi para 35%.
Aécio oscilou de 19% para 20%. Eduardo Campos foi de 7% para 9%, se
livrando do empate técnico que vinha tendo com Pastor Everaldo. Como se vê, o
brasileiro está de bom humor, pois todo mundo ganhou alguma coisa. Outro dado
do Datafolha mostrou que 76% dos eleitores acham que os torcedores que xingaram
Dilma, na estreia da Copa, agiram mal. É que muitos brasileiros se sentiram mal
com os xingamentos, pois aquilo atingiu o tal orgulho para com a Copa do Mundo.
A medida que os jogos da Copa foram ocorrendo o brasileiro foi se envolvendo.
Claro, ajudaria se a Seleção Brasileira jogasse um pouco mais e melhor. Se eu, que sou eu, estou torcendo pelo
Brasil, o que dirá a presidente Dilma que pode crescer mais nas pesquisas se o
Brasil crescer nos gramados.
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AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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