Ontem eu analisei como atores
políticos e seus partidos podem tomar caminhos iguais, mesmo que seus
interesses possam ser pontualmente diferentes. Ou, dito de outra forma, como
eles podem tomar caminhos diferentes mesmo que façam parte de uma mesma
estrutura partidária.
Nos últimos dias acompanhamos alguns pré-candidatos a
vereador mudando de palanque eleitoral a revelia de seus gostos e interesses.
Eu explico.
Um candidato a vereador (vamos
chamá-lo de José), pertencente ao “partido A”, tem como estratégia de campanha
apoiar o “candidato X” a prefeito. Acontece que a direção do partido de José
negocia o apoio com os candidatos W, Y, X e Z para prefeitura de uma cidade que
chamaremos Campina Grande mesmo.
Como a negociação se estabelece
na base do “toma-lá-da-cá” e perdura por dias a fio, a cada novo dia nosso
intrépido candidato José acorda em um novo palanque. Num dia o partido de José
trata com o “candidato Y”. Em troca de certa quantia e de cargos no 2º escalão
de um futuro governo lhe garante apoio. O partido de José até anuncia a decisão
tomada e José muda de palanque. Fica decidido que ele vai apoiar o “candidato Y”.
Mas, ele não tem tempo nem para reclamar.
Noutro dia o “partido A” faz um
acordo mais vantajoso para apoiar o “candidato W”. Subirá em seu palanque em
troca de dinheiro para a campanha e de duas secretarias no governo municipal
se, claro, W for eleito prefeito. José, que preferia apoiar o “candidato X”, é
obrigado a mudar novamente de palanque. Decidem, sem consultá-lo, que ele vai
apoiar o “candidato W”.
José diz que não quer apoiar o
“candidato W”, que já tinha feito até um acordo com o “candidato X”. Ele
reclama, grita, briga e vai para a imprensa chorar suas mágoas. Como o partido
de José não nutre afeições pelos procedimentos democráticos, determina que ele
tem que seguir a orientação do partido e apoiar o “candidato W”. José não
aceita. Continua na imprensa a reclamar, a dizer que está desiludido com a
democracia, que a política é uma sujeira só. E ameaça ir para a justiça.
A direção do partido dá a ele,
democraticamente (?) duas alternativas. Uma, seguir a orientação dada. Outra,
ser expulso do partido e ficar sem legenda para disputar a eleição. José engole
seco. Aceita a imposição e muda suas estratégias de campanha. Mas o estrago foi
feito. As arestas ficam para numa nova eleição virem à tona.
Este, meus amigos, é o jogo que
está sendo jogado neste exato momento. Um jogo onde as motivações ideológicas
inexistem. Onde o que vale é o jogo do “toma-lá-da-cá”. Neste jogo podemos ver
o partido impondo sua vontade para os filiados e podemos ver um único dirigente
partidário impondo sua vontade para o partido inteiro.
Este é um jogo anti-demcrático em
todos os seus quadrantes. Nele não existem discussões em torno de ideias e
projetos. Impera a vontade de poucos em torno de interesses localizados. Em
geral, a maioria se submete a vontade da minoria como vimos ontem nos casos do PT
e do PRB
Neste jogo o que conta são os
tais minutos que um partido leva para a coligação. Os cargos que serão
distribuídos e, claro, o tal vil metal. Se você é ou quer ser um candidato,
como José, avalie se vale mesmo a pena entrar num jogo onde, como diria cazuza,
seus sonhos serão vendidos tão baratos que você não vai acreditar.