Nosso processo eleitoral evoluiu
com dificuldades. Em 1960, na última eleição presidencial antes do golpe de 64,
seis milhões de eleitores votaram. Na eleição seguinte, 29 anos depois, foram
120 milhões de eleitores. Crescíamos quantitativamente enquanto desaprendíamos
a votar.
Em 2004, os eleitores entre 16 e
18 anos foram cerca de três milhões e os entre 18 e 25 anos vinte e dois milhões.
Quantos amadureceram para participarem de uma eleição? Tradicionalmente a
democracia é vista como um sistema que, dentre outras coisas, permite que se
escolha aqueles que podem decidir. Sua essência seria a de que os cidadãos
poderiam substituir seus representantes ruins por outros que fossem melhores.
Já se disse que a “a democracia é a oportunidade do povo de
aceitar ou recusar seus governantes”. Devemos nos contentar com isso? Não,
é muito pouco. Mas, se não consolidarmos nem isso, como avançaremos para um
sistema mais sólido, que impeça que o momento pré-eleitoral se contamine pelas
tais negociatas?
Hoje, o impeachment de Collor já
é assunto dos livros didáticos, a ditadura parece coisa de um passado distante
e as eleições acontecem a cada dois anos.O que nos falta é ter a política como
algo que orienta as relações sociais. A política não é algo exclusivo dos
atores e partidos políticos. Pela educação, não pela força, nosso passado
autoritário deve ser revisto. Que se use a “Comissão da Verdade” para isso.
Na ditadura, Educação Moral e Cívica,
Organização Social e Política do Brasil e Estudos dos Problemas Brasileiros
constavam nos currículos escolares para afirmarem as ideia e interesses do
regime militar. E eram subvertidas por professores que driblavam a censura e o
medo para ensinar outras coisas para seus alunos.
Foi assim que muitos, como
eu, puderam ter acesso às coisas da filosofia, da política, da história, da
sociologia. Além da música, da literatura e das artes em geral. Devo isso aos
meus queridos professores subversivos. Sem eles, talvez eu estivesse, hoje,
achando que a terra fosse quadrada ou que o homem nunca foi à lua.
Se você se lembra disso, é porque
é menos jovem do que os que vão votar pela 1ª vez este ano. A vantagem é que
pode vir a contribuir num processo de educação política. Se não estamos em uma
ditadura e temos liberdade de expressão por que não utilizar os espaços devidos
para educar para a cidadania? Por que não ensinar para que servem a República,
os poderes e suas funções, as eleições e os partidos, os direitos e os deveres,
o papel da imprensa, etc?
É preciso munir o jovem para que
ele entenda o funcionamento da democracia e possa valorizá-la como algo útil
para a sua existência. Somos chamados a educar os jovens para a cidadania e
para a pluralidade democrática, senão ficaremos sempre a perguntar: você
acredita na democracia?