Quando eu era
criança ouvia transmissões de jogos de futebol num enorme radio Philips AM.
Lembro que os radialistas, que narravam jogos, costumavam usar a expressão “vamos para a última volta do ponteiro”, para
mostrar que o jogo já ia acabar. Como na época o juiz não era obrigado a avisar
por quanto tempo prorrogaria o jogo, essa tal última volta do ponteiro poderia
durar vários minutos. Ficava a critério do juiz e, claro, da pressão que os
jogadores e a torcida pudessem exercer sobre ele. Nelson Rodrigues costuma usar
essa expressão, em suas crônicas, mas com um sentido figurado. A “última volta
do ponteiro” significa o fim de alguma coisa. Podia ser o fim de um jogo, de
uma festa, de uma situação judicial ou mesmo o fim de um casamento.
Hoje é terça-feira, 21/10, faltam seis dias para as eleições do 2º turno
quando, finalmente, saberemos quem vai governar a Paraíba e o Brasil entre 2015
e 2018. Esta semana veremos o ponteiro dar a última volta no mostrador
eleitoral. Como num jogo de futebol, onde tudo pode acontecer no último minuto,
chegamos ao final de um processo eleitoral recheado de surpresas e indecisões.
É que as pesquisas não conseguem nos dar pistas seguras e insistem em mostrar
apenas empates técnicos. Não que isso seja ruim, pois nada pior do que uma
eleição onde o eleito se anuncia ainda no começo da eleição. Para a dinâmica do
processo e para a vitalidade de nosso sistema politico essa incerteza é necessária,
mesmo que não seja suficiente.
Mas, com todas essas indecisões, que retratam bem o acirramento do
processo eleitoral, o que devemos fazer nesta última volta do ponteiro? Sentar
e esperar até o próximo domingo pode ser uma boa opção, mas nada impede que
façamos algumas ilações. Os levantamentos IBOPE e DATAFOLHA se parecem tanto
que cheguei a pensar que foram feitos pelos mesmos pesquisadores e tratados
pelos mesmos estatísticos. Ambos aceitam a tese do empate técnico com margem de
erro de dois pontos percentuais. Em ambos vemos Aécio com 51% e Dilma com 49%.
Para os Institutos essas porcentagens se referem aos votos válidos, ou seja, é
quando eles excluem os votos nulos e brancos. Mas, pesquisas aferem opiniões,
elas não contam votos.
Assim, preciso atentar para os eleitores que disseram que vão votar nulo
ou em branco. Preciso, claro, dos eleitores que se dizem indecisos, até porque,
numa situação de empate técnico, são eles quem vão decidir quem nos governará. Quando
os votos nulos e brancos são incluídos vemos Aécio com 45% e Dilma com 43%. 06%
dos eleitores dizem que vão votar nulo ou branco e outros 06% se dizem
indecisos. Dilma e Aécio vão dedicar cada segundo da última volta do ponteiro
para esses eleitores. Mas, foi o Datafolha que lançou alguma luz neste mar
escuro de incertezas. Em sua última aferição, o instituto detectou que Dilma
tem mais chances de conquistar, estes 06% de indecisos, do que Aécio. Como o
Datafolha viu isso?
Primeiro, se viu que Aécio e Dilma empatam entre os eleitores que se dizem
convictos de em quem votarão no próximo domingo. 41% dizem que estam
convencidos de votar em Aécio e 40% de votar em Dilma. Mas, entre os indecisos,
é Dilma quem tem maior potencial de conversão. 13% dos indecisos declararam
estarem mais propensos a votar em Dilma, enquanto 6% disseram que podem vir a
votar em Aécio. A questão é como convencer essa fatia do eleitorado nessa
última volta do ponteiro, sabendo que não teremos mais qualquer tipo de
prorrogação. Existe uma opinião corrente de que são os debates que levam o
indeciso a escolher um caminho.
Mas, na verdade, os debates servem bem mais para motivar a militância
partidária e para dar confiança aos que já decidiram. Não me parece que a essa
altura do campeonato ainda se tenha dúvidas sobre quem é quem nessa eleição. Depois
de 20 anos sendo governados pelo PSDB e pelo PT já dá para saber, pelo menos em
linhas gerais, onde eles se diferenciam e onde eles se equiparam. Já deu para
perceber que Dilma e Aécio possuem perfis absolutamente diferentes. Sabemos das
tendências privatizantes do PSDB e sabemos que o PT não abre mão do
intervencionismo Estatal. Sabemos que Dilma tem uma visão de mudo mais a
esquerda e que Aécio tem uma forma de ver o mundo mais a direita.
No 1º turno, Dilma foi mais bem votada
entre as classes C e D, enquanto Aécio teve mais votos nas classes A e B. Dilma
tem Lula como cabo eleitoral de peso. 37% são eleitores de Dilma graças ao
apoio que Lula lhe empresta. Aécio tem FHC, Marina e a família Campos como
cabos eleitorais. 20% dos eleitores de Aécio votaram em Marina no 1º turno. 16%
dizem que votam em Aécio por causa de FHC. O Datafolha não deu um percentual em
relação aos herdeiros de Eduardo Campos. Com tudo isso, temos que considerar
mesmo é o capital eleitoral de cada candidato e os apoios e alianças que eles
recolheram nos Estados das cinco regiões. Agora, vamos ver quem tem mais pernas
para correr na última volta do ponteiro.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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