terça-feira, 21 de outubro de 2014

A ÚLTIMA VOLTA DO PONTEIRO

Quando eu era criança ouvia transmissões de jogos de futebol num enorme radio Philips AM. Lembro que os radialistas, que narravam jogos, costumavam usar a expressão “vamos para a última volta do ponteiro”, para mostrar que o jogo já ia acabar. Como na época o juiz não era obrigado a avisar por quanto tempo prorrogaria o jogo, essa tal última volta do ponteiro poderia durar vários minutos. Ficava a critério do juiz e, claro, da pressão que os jogadores e a torcida pudessem exercer sobre ele. Nelson Rodrigues costuma usar essa expressão, em suas crônicas, mas com um sentido figurado. A “última volta do ponteiro” significa o fim de alguma coisa. Podia ser o fim de um jogo, de uma festa, de uma situação judicial ou mesmo o fim de um casamento.

Hoje é terça-feira, 21/10, faltam seis dias para as eleições do 2º turno quando, finalmente, saberemos quem vai governar a Paraíba e o Brasil entre 2015 e 2018. Esta semana veremos o ponteiro dar a última volta no mostrador eleitoral. Como num jogo de futebol, onde tudo pode acontecer no último minuto, chegamos ao final de um processo eleitoral recheado de surpresas e indecisões. É que as pesquisas não conseguem nos dar pistas seguras e insistem em mostrar apenas empates técnicos. Não que isso seja ruim, pois nada pior do que uma eleição onde o eleito se anuncia ainda no começo da eleição. Para a dinâmica do processo e para a vitalidade de nosso sistema politico essa incerteza é necessária, mesmo que não seja suficiente.

Mas, com todas essas indecisões, que retratam bem o acirramento do processo eleitoral, o que devemos fazer nesta última volta do ponteiro? Sentar e esperar até o próximo domingo pode ser uma boa opção, mas nada impede que façamos algumas ilações. Os levantamentos IBOPE e DATAFOLHA se parecem tanto que cheguei a pensar que foram feitos pelos mesmos pesquisadores e tratados pelos mesmos estatísticos. Ambos aceitam a tese do empate técnico com margem de erro de dois pontos percentuais. Em ambos vemos Aécio com 51% e Dilma com 49%. Para os Institutos essas porcentagens se referem aos votos válidos, ou seja, é quando eles excluem os votos nulos e brancos. Mas, pesquisas aferem opiniões, elas não contam votos.

Assim, preciso atentar para os eleitores que disseram que vão votar nulo ou em branco. Preciso, claro, dos eleitores que se dizem indecisos, até porque, numa situação de empate técnico, são eles quem vão decidir quem nos governará. Quando os votos nulos e brancos são incluídos vemos Aécio com 45% e Dilma com 43%. 06% dos eleitores dizem que vão votar nulo ou branco e outros 06% se dizem indecisos. Dilma e Aécio vão dedicar cada segundo da última volta do ponteiro para esses eleitores. Mas, foi o Datafolha que lançou alguma luz neste mar escuro de incertezas. Em sua última aferição, o instituto detectou que Dilma tem mais chances de conquistar, estes 06% de indecisos, do que Aécio. Como o Datafolha viu isso?

Primeiro, se viu que Aécio e Dilma empatam entre os eleitores que se dizem convictos de em quem votarão no próximo domingo. 41% dizem que estam convencidos de votar em Aécio e 40% de votar em Dilma. Mas, entre os indecisos, é Dilma quem tem maior potencial de conversão. 13% dos indecisos declararam estarem mais propensos a votar em Dilma, enquanto 6% disseram que podem vir a votar em Aécio. A questão é como convencer essa fatia do eleitorado nessa última volta do ponteiro, sabendo que não teremos mais qualquer tipo de prorrogação. Existe uma opinião corrente de que são os debates que levam o indeciso a escolher um caminho.
 
Mas, na verdade, os debates servem bem mais para motivar a militância partidária e para dar confiança aos que já decidiram. Não me parece que a essa altura do campeonato ainda se tenha dúvidas sobre quem é quem nessa eleição. Depois de 20 anos sendo governados pelo PSDB e pelo PT já dá para saber, pelo menos em linhas gerais, onde eles se diferenciam e onde eles se equiparam. Já deu para perceber que Dilma e Aécio possuem perfis absolutamente diferentes. Sabemos das tendências privatizantes do PSDB e sabemos que o PT não abre mão do intervencionismo Estatal. Sabemos que Dilma tem uma visão de mudo mais a esquerda e que Aécio tem uma forma de ver o mundo mais a direita.

No 1º turno, Dilma foi mais bem votada entre as classes C e D, enquanto Aécio teve mais votos nas classes A e B. Dilma tem Lula como cabo eleitoral de peso. 37% são eleitores de Dilma graças ao apoio que Lula lhe empresta. Aécio tem FHC, Marina e a família Campos como cabos eleitorais. 20% dos eleitores de Aécio votaram em Marina no 1º turno. 16% dizem que votam em Aécio por causa de FHC. O Datafolha não deu um percentual em relação aos herdeiros de Eduardo Campos. Com tudo isso, temos que considerar mesmo é o capital eleitoral de cada candidato e os apoios e alianças que eles recolheram nos Estados das cinco regiões. Agora, vamos ver quem tem mais pernas para correr na última volta do ponteiro.

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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