As eleições
desse ano, no Estado da Paraíba, entrarão para nossa história política por um
fato representativo, que promete ter implicações futuras. Eu falo da primeira
derrota sofrida pelo senador Cássio Cunha Lima em toda sua carreira política.
Desde que Cássio se elegeu deputado federal constituinte, em 1986, com apenas
23 anos de idade, nunca havia perdido uma eleição sequer. É certo que ele
sofreu reverses eleitorais apoiando pessoas do seu próprio grupo político. Nas eleições de 2004 e 2008, Cássio apoiou
Rômulo Gouveia, com todo seu prestígio político, e viu seus principais
opositores, do PMDB, elegerem Veneziano Vital em seu reduto eleitoral, Campina
Grande, também conhecida como a “ilha tucana”.
A quem diga que foi neste processo que Cássio começou a experimentar o
desgaste político que agora parece ser mais nítido. Obviamente, não podemos
esquecer a cassação de 2009, algo que abateu o senador e o marcou
profundamente. A eleição de 2010, quando Cássio teve mais de um milhão de votos
para o senado, compõe essa carreira com bem mais altos do que baixos. O fato é
que desde a cassação o senador tem ido e voltado ao inferno dos políticos com a
questão da Lei da Ficha Limpa. Este ano, o senador se lançou candidato ao
governo. Acreditava que poderia apagar a tal cassação de seu currículo se
voltasse, eleito, claro, a ocupar o cargo de governador. Lêdo engando, tem coisas
que ficam marcadas para o resto da vida na carreira de um politico.
Poucos duvidariam que com aquela estrondosa votação para o Senado, Cássio
não pudesse se candidatar e ser eleito. Supor que aquele um milhão de votos, lá
de 2010, se transfeririam automaticamente para a eleição desse ano, foi o
primeiro erro de Cássio. É que cada eleição tem sua própria dinâmica. Em 2010,
muitos paraibanos entenderam que votar em Cássio era uma forma de inocentá-lo.
Mas, a mãe de todos os erros de Cássio foi interromper a aliança politica com o
governador Ricardo Coutinho. Aquilo que deveria acontecer apenas em 2018 foi
precipitado para atender alguns interesses paroquiais e a um sentimento de
vingança que, definitivamente, não combina com uma atividade extremamente racional
como a política.
Cássio seria o candidato natural, inconteste, na eleição para o governo de
2018 que não poderia ter um candidato do calibre de Ricardo Coutinho. Em 2018,
Cássio concorreria sem ter um oponente à altura, pois Ricardo estaria pleiteando
uma cadeira ao Senado. O segundo erro de Cássio foi supor que, rompendo com
Ricardo, levaria consigo uma legião de aliados e eleitores. Ele rompeu, mas
quem ficou com no governo foi Ricardo que soube se utilizar das vantagens de
ser governador e candidato ao mesmo tempo. Cássio perdeu muitos votos com
aquilo que soou como uma brutal incoerência. Muitos não aceitaram o fato dele
ter pedido para que se gostasse de Ricardo, em 2010, e agora ter pedido para
que se odiasse o governador.
Vi e ouvi muita gente dizer que os motivos que levaram Cássio romper com
Ricardo eram só dele, que não poderiam ser estendidos para seus eleitores. Boa
parte dos eleitores não aceitou que Cássio lhes pedisse de volta aquilo que
transferiram em 2010. Nessa campanha vimos um Cássio Cunha Lima atípico. No
lugar daquele politico centrado, com um discurso bem articulado, com plenos
poderes no trato com as massas, vimos alguém por vezes evasivo em suas
respostas. O discurso de Cássio foi pré-produzido e não sofreu mutações durante
o processo. Aliás, o formato midiático da campanha foi engessado por um modelo,
que já deu certo em outras épocas, mas que se mostrou frágil frente às
inovações apresentadas por Ricardo.
Nessa eleição, vimos um Cássio quase sempre irritado, impaciente. É como
se ele não estivesse querendo mais cumprir o ritual que tão bem desempenhou em
outros momentos. Cássio fez essa campanha bem mais com o fígado do que com o
cérebro. Acompanhei debates (no rádio e na TV) bem de perto e vi um Cássio Cunha
Lima no limite de suas forças e bastante intranquilo, ao contrário de um
Ricardo Coutinho que surpreendeu pela simpatia, pela calma e paciência em lidar
com as pessoas. O terceiro erro de Cássio foi ter subestimado seu eleitorado.
Já vai um pouco distante o tempo em que a massa eleitoral deixava-se guiar pelo
líder sem lhe oferecer o benefício da dúvida. Hoje, as massas até se deixam
manobrar, desde que conscientes disso.
Os políticos não entendem que a
massa eleitoral tem vida própria mesmo que aceite a liderança de alguém. Sim,
persistem os mecanismos de controle do líder sobre a massa, mas ela pode ou não
deixar-se manobrar a depender das conjunturas. Até este ano, Cássio Cunha Lima
ainda não tinha sido testado nas urnas enfrentando um adversário realmente a
sua altura e com qualidades que ele mesmo não possui. Ricardo Coutinho se
mostrou este concorrente e Cássio não soube lidar com isso. Com tudo isso,
estou querendo dizer que Cássio Cunha Lima está enfrentando o ocaso de sua
carreira? Não, em absoluto. Outros processos virão para que possamos verificar
mais e melhor o que por ora é tão somente uma derrota como outra qualquer.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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