quarta-feira, 22 de outubro de 2014

O JUS SPERNIANDI DOS DERROTADOS

Em 1945, a 2ª Guerra Mundial terminava tendo o 1º ministro inglês, Winston Churchill, como um dos responsáveis pela vitória dos países aliados. Mas, isso não impediu que Churchill perdesse as eleições para o parlamento inglês naquele mesmo ano. Se diz na Inglaterra que “Churchill venceu a guerra e foi derrotado pela política”. Deve ter sido por isso que ele disse que: A política é quase tão excitante e perigosa quanto à guerra. Na guerra, só se morre uma vez, mas na política se morre várias vezes”. A derrota abateu Churchill ao ponto dele ter dito que: “Ninguém pretende que a democracia seja perfeita. Tem-se dito que a democracia é a pior forma de governo, salvo todas as demais formas que têm sido experimentadas de tempos em tempos”.

Ter perdido a eleição, depois de ter sido herói em duas guerras, enfureceu Churchill, mas ele era um lorde inglês e soube lidar com a situação com toda a fleuma e com toda aquela ironia corrosiva que os ingleses conservam tão bem. Aqui no Brasil é bem diferente. Os nossos políticos costumam se comportar muito mal quando perdem uma eleição. É comum vermos, os que ocupam cargos no parlamento há muitos mandatos, perderam a compostura e saírem atirando para todos os lados. Em geral, quando ganham a eleição, os políticos gostam de dizer que “foi à vontade do povo consagrada nas urnas” ou que foram eleitos porque “a voz do povo é a voz de Deus”. Os políticos gostam desse negócio de querer representar Deus na terra.

Os derrotados dizem coisas como: “Pai, perdoa-lhes, pois eles não sabem o que fazem”. Os políticos não costumam ter um comportamento republicano nem na vitória e muito menos na derrota. Quando perdem, nas urnas, eles vão, literalmente, a loucura. Vejam que usamos a expressão “jus sperniandi” para retratar a situação do candidato que, derrotado, não vê outra coisa a fazer a não ser espernear, reclamar, xingar. Eu até acho que o direito ao esperneio deve ser democraticamente garantido aos derrotados. Toinho do Sopão, deputado estadual, pelo PEN, não se conformou em ter ficado, apenas, em 67º lugar com 6.851 votos. No auge de sua revolta, o deputado Sopão criticou o atual quadro político dizendo que só candidato podre chega ao poder.
Ele ainda disse que: “política hoje é igual a feijão na panela, só sobe os podres”. Toinho do Sopão tinha sido o deputado mais bem votado na eleição de 2010 com 57 mil votos. Muitos disseram, eu inclusive, que ele estava sendo eleito para ser o Tiririca da Paraíba. Ao se descontrolar, o deputado Sopão esqueceu que, se nesta eleição, ele foi um feijão bom que não subiu para a panela da Assembleia Legislativa, na eleição passada ele foi o feijão mais podre da panela, pois foi o que subiu mais rápido. Outro que perdeu a compostura, diante da derrota, foi o deputado estadual Vituriano de Abreu, do PSC.  Ele ficou em 50º lugar com 14.187 votos. Vituriano disse que 50% a 70% dos eleitores são corruptos.

Como será que o deputado Vituriano descobriu que tantos paraibanos são corruptos? Mas, Vituriano precisava mesmo desabafar e foi adiante. Ele chamou os eleitores de traidores por trocarem de candidato mediante vantagens oferecidas. Vituriano sofreu forte concorrência em seus domínios eleitorais. A conclusão do deputado é desesperadora: “Vi que não vale a pena ser honesto. Vale a pena ser ladrão, ser corrupto e mentir”. Certo, coloquemos essa frase na conta da ira do deputado. Mas, eu torço para que ele não passe a roubar, mentir e corromper como forma de voltar a Assembleia Legislativa. Se é que essa é a única maneira de fazer os feijões, digo os deputados, subirem na panela parlamentar, como diria Toinho do Sopão.
 
Outro deputado (candidato a reeleição) que foi barrado nas urnas foi Guilherme Almeida. Ele ficou em 47º lugar e obteve 17.341 votos. Guilherme não perdeu a compostura verbal, mas foi incisivo ao explicar o motivo de sua derrota. Ele disse que perdeu a eleição porque não tinha dinheiro para comprar lideranças. Simples assim. Guilherme não citou nomes, infelizmente, mas disse que essa é uma prática comum entre prefeitos, vereadores e cabos eleitorais. Ele relatou que certo vereador lhe pediu uma quantia para lhe apoiar, como o deputado negou, alegando não dispor de poder aquisitivo, o tal vereador foi em busca de um candidato mais aquinhoado. Então, é assim que funciona a campanha eleitoral?

O caro ouvinte deve perguntar: temos que lamentar a derrota desses senhores? Não, não temos, até porque essas são as regras do jogo eleitoral. Mas, não deixa de ser interessante perceber que a derrota lhes dê tamanha sinceridade. De que outra maneira poderíamos saber que para se ganhar uma eleição é preciso subornar lideranças políticas? Enquanto os políticos estam sendo eleitos dizem que é pela vontade soberana do povo ou mesmo pela vontade de Deus. Mas, quando não são eleitos, resolvem dizer a verdade ou quase toda a verdade. Que seja assim, então. Que tal barramos, a cada nova eleição, um desses políticos para que só então possamos saber como, de verdade, funciona esse tal jogo eleitoral?

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AQUI É O POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.

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