O caro ouvinte
sabe quem é a estudante Ana Claudia Maffei? Não? Pois é, até o começo da noite
de domingo passado, Ana Claudia era uma ilustre desconhecida do Brasil inteiro.
Mas, a partir da segunda, ela ficou sendo conhecida como a “musa da derrota”.
Ana Claudia é aquela moça que foi flagrada, aos prantos, na sede do PSDB, em
São Paulo, após a derrota de Aécio Neves na eleição presidencial. Ana Claudia
disse que seu choro foi de “frustração por saber que chegamos tão perto e não
conseguimos”. Ana Claudia tem apenas 22 anos. Com o idealismo e a ingenuidade
naturais de sua juventude ela disse: “Não vai ser agora. Meu sonho de país foi
adiado”. Certo, a que se ter todo respeito pelas lamúrias de Ana Claudia.
Afinal, não é fácil aceitar a derrota quando se esteve tão perto da
vitória. Alguém me falou que preferia ter perdido a eleição já no 1º turno, por
uma grande diferença, a ter alimentado tantas esperanças por um resultado
positivo. Aliás, esse foi o problema. O marketing de Aécio Neves alimentou a
esperança de uma vitória, quando a derrota era plausível, durante quase toda
campanha. Aécio só ocupou o 1º lugar nas pesquisas já no 2º turno e mesmo assim
sempre dentro das margens de erro, com empates técnicos. Quando a marolinha de
Marina Silva se tornou um tsunami, Aécio patinou e foi aos 15 pontos
percentuais. A entrada de Marina
revolveu a disputa ao ponto de Aécio se desesperar e até considerar desistir da
disputa. Isso foi entre agosto e setembro.
Na época, o jornalista Gerson Camarotti publicou, no Portal G1, que Aécio
ponderava desistir diante da queda nas pesquisas e das dificuldades de seu
candidato em Minas, Pimenta da Veiga, que terminou perdendo a eleição para o PT
ainda no 1º turno. Aécio temia perder em seu estado, o que de fato aconteceu.
Esse foi o problema bem explorado pelo marketing de Dilma Rousseff. É que se o
senador não conseguiria vencer em seu Estado, em sua região, como poderia
vencer, por exemplo, no Norte/Nordeste? Aquela agressiva peça publicitária do
PT, que dizia “Quem conhece o Aécio, não vota nele”, funcionou porque o PSDB
não tinha como se contrapor ao fato de que em Minas Gerais Aécio não conseguia
ter o suficiente desempenho para derrotar o PT.
Uma avalição pós-eleitoral dá conta que Aécio ganhou em Estados onde seus
aliados estavam bem situados. Jornalistas “tucanizados” dizem que Aécio ganhou
em São Paulo, por exemplo, por causa do capital eleitoral de Alckmin, não por
ele próprio. Beto Richa, governador reeleito pelo PSDB no Paraná, mostrou que a
votação de Aécio, no 2º turno, foi quase a mesma que ele teve para se eleger no
1º turno. Situação parecida aconteceu em Goiás, onde o PSDB também ganhou a
eleição estadual. Outro fator que ajuda a explicar a 4ª derrota seguida, do
PSDB sobre o PT, foi a condução da própria campanha. O FLA X FLU PT/PSDB se
ancora, em grande medida, na influência que Lula e FHC possuem nesse processo
que já dura 20 anos.
Lula demorou a entrar na campanha, mas quando o fez foi de forma decisiva.
No 2º turno, lá estava Lula pelos palanques, nas atividades de rua, e no guia
eleitoral, garantindo que Dilma receberia parte de seu capital eleitoral. Já
FHC não entrou em campanha, por preferir os bastidores. Ele não aparecia no
guia eleitoral e muito menos ia as ruas. Sem contar que ainda foi capaz de
atrapalhar ao dizer que os eleitores de Dilma são a parcela menos informada da
população. Uma boa explicação veio do núcleo do PSDB mineiro. O antropólogo
Renato Pereira, que conduziu a campanha de Aécio até dezembro, afirmou que o
erro maior foi os tucanos nunca terem saído da zona de conforto, não terem
corrido riscos.
Renato afirmou que o PSDB manteve-se fiel a sua feição patrimonialista com
uma campanha focada nos acordos político-partidários. Aécio falava para os
aliados. Aqui mesmo na Paraíba, Aécio se dirigia sempre ao seu aliado Cássio
Cunha Lima. Já Dilma cumpria o receituário de que candidato firma acordo com o
eleitor. Outro erro foi explorar o apoio de celebridades desmioladas e figuras
sem a mínima estatura moral, para pedir seja lá o que for para quem quer que
seja, a exemplo de Lobão e Neymar. Para ficar num exemplo, como se pode
permitir que o ex-jogador Ronaldo, aquele que disse que “não se faz Copa do
Mundo com hospitais”, estivesse tanto ao lado de Aécio? Se uma vitória se faz
com acertos, uma derrota se faz com erros.
Erros graves de Aécio foi ter dito
que Armínio Fraga seria seu Ministro da Fazenda, lembrando aos eleitores o
período inflacionário comandado pelo economista, e ter chamado Dilma de
leviana. Pareceu que ele estava chamando a presidente, uma senhora, de “mulher
da vida”. Por vezes, Aécio parecia o “candidato de um discurso só” ao explorar
de forma tão insistente o envolvimento do PT com os casos de corrupção. É que
esse discurso não é propositivo, ele se aloca no campo das denuncias. É certo
que parte da sociedade comprou a ideia de que não reeleger Dilma significaria
livrar o Brasil das garras do PT, mas a outra parte da sociedade questionava se
estaríamos melhor caso nos livrássemos do PT. Pensado bem, Ana Claudia chorou
ao se dar conta que sua causa era frágil.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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