Se a final da
apuração dos votos da eleição presidencial, no domingo passado, tivesse sido
como uma final de Copa do Mundo, com direito a prorrogação e pênaltis, ainda
assim teríamos tido mais emoções. Quem disse que a política não pode ser
empolgante? É que com a diferença de fuso horário entre as regiões
Norte/Nordeste e Sul/Sudeste, além do horário de verão, o TSE adotou a
estratégia de só liberar os dados da apuração quando toda a votação já tivesse
sido encerrada em todo o país. Fazíamos, aqui neste estúdio da Campina FM, a
cobertura da apuração da eleição estadual, sabíamos que a apuração nacional
estava sendo feita, mas não acessávamos os dados. Ouvíamos o canto da sereia,
sem saber ao certo onde ela estava.
Quando finalmente o TSE liberou os dados, quase 90% dos votos tinham sido
apurados, mas mesmo assim ainda não se podia afirmar quem seria o eleito. Só
foi possível ter certeza que Dilma Rousseff estava reeleita com quase 98% dos
votos apurados. Foi um processo difícil, como de resto à própria campanha
eleitoral. Vejam que os três principais candidatos (Dilma, Aécio e Marina)
estiveram sempre naquela estreita fronteira onde para ir do céu ao inferno
basta dar um pequeno passo. Aécio Neves, que obteve quase 49% dos votos
válidos, que esteve virtualmente eleito em boa parte da apuração, chegou a
pensar em desistir de sua candidatura, entre agosto e setembro, quando a
marolinha de Marina Silva parecia um tsunami.
Entre março e setembro Dilma liderou quase todas as pesquisas, mas isso
não nos diz muito, pois quando chegou o 2º turno a ameaça de uma derrota era
real e eminente. Ainda me pergunto como Dilma pode ganhar e/ou como Aécio pode
perder? É que a conjuntura política e econômica era tão desfavorável que nem o
petista mais otimista afirmava com certeza absoluta que Dilma ganharia. A
máxima de James Carville, assessor de Bill Clinton, “É a economia, estúpido!”,
nunca esteve tão em voga. Dilma enfrentou uma campanha com a inflação em alta
lhe pesando as costas. Ela não conseguia ser otimista, no guia eleitoral, pois
seu Ministro da Fazenda, Guido Mantega fazia tábula rasa de uma crise econômica
que afeta a todos, o Brasil inclusive.
Quando, no guia eleitoral, Aécio Neves perguntava às donas de casa se elas
percebiam a alta dos preços, ao irem ao supermercado, a estrela vermelha se
balançava toda. O marqueteiro de Aécio foi tolo em não querer usar o efeito
James Carville. Ainda houve a tragédia do Mineirão, quando a “copa das copas”
foi soterrada pela montanha de gols que a Alemanha fez no Brasil. A sorte de
Dilma é que a vergonha foi tão grande que todo mundo quis esquecer logo,
inclusive a oposição. Claro, tinha, ainda tem, os problemas advindos do fato de
que os partidos brasileiros, o PT, inclusive e principalmente, não conseguem
atuar unicamente na faixa da legalidade. Quando começou a jorrar da Petrobras
toda a sujeira a oposição se aproveitou.
Aliás, se aproveitou, mas sempre com algum receio, pois quem tem mensalão
de vidro não pode atirar pedras no mensalão alheio. Aliás, foi por esse viés
que Dilma pode ter um de seus melhores momentos nos debates. Quando Dilma disse
que, em seu governo, pessoas do seu partido tinham sido condenadas e que os
tucanos envolvidos em escândalos de corrupção estavam todos soltos, deu prova
inequívoca que as manchetes da Revista Veja são pouco confiáveis. Esse foi um
dos grandes trunfos de Dilma nesta eleição. Ao contrário de Lula, a presidente
conseguiu convencer boa parte da população sobre sua seriedade e sinceridade
quando o assunto é corrupção.
Aquele jeito de “mãezona durona” passou credibilidade para boa parte da
população. E isso não sou eu que estou dizendo, são as pesquisas qualitativas
manuseadas pelo marqueteiro de Dilma. Claro, não podemos negar a força dos
programas sociais, principalmente o “Bolsa Família” e o PRONATEC. Dilma venceu
bem no Norte/Nordeste porque são nos estados dessas regiões onde o governo mais
investe em programas sociais. A despeito do que pensa a elite quatrocentona de
São Paulo, o povo reconhece em Dilma a efetivação desses programas. Dilma ia
quase sempre mal nos debates ao ponto de ter tido uma oscilação em sua pressão
arterial em um deles. Com aquelas pausas intermináveis, e uma certa gagueira,
Dilma conseguiu, ao seu modo, passar credibilidade.
João Santana, marqueteiro de Dilma,
descobriu que é melhor deixar os defeitos a mostra do que tentar escondê-los.
Ao se mostrar inteira, Dilma reforçava o arquétipo da “mãezona durona”, mas se
apresentava real, humana, igual aos eleitores. Claro, a entrada, mesmo que
tardia, de Lula na campanha agregou o valor que se esperava. Quase 40% dos
votos de Dilma ainda são fruto da transferência de seu mentor politico. Coisa
que Dilma não nega, pelo contrário, agradece. No FLA X FLU entre PT e PSDB
Dilma se diferencia não apenas por ser mulher, mas por mostrar uma firmeza, que
beira ao autoritarismo, incomum no mundo masculinizado da política. Pois é, bem
vinda sós vos, Dilma, entre os homens.
AQUI É O
POLITICANDO, COM GILBERGUES SANTOS, PARA A CAMPINA FM.
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